CityPenha Carnaval 2014 - page 35

Edição Virtual Carnaval 2014
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comunidade, e eu represento eles, brigo por eles, luto por
eles. Minha voz é a deles.
CityPenha:
Pelo que podemos perceber sua gestão é bem
participativa.
Solange:
Eu estou sempre buscando o que é melhor para
nossa escola dentro de todo esse conjunto. No início eu era
uma pessoa mais rígida. Sou muito segura do que eu quero
e sempre falei o que eu acho e fiz o que achei que devia
fazer, mas para dirigir a escola, cheguei à conclusão de que
temos que dividir mais. Então passei a ouvir bastante, a
digerir o que as pessoas acham, tentar entender e transfor-
mar para chegar naquilo que a gente poderia chamar de um
futuro resultado. Hoje trabalhamos muito com isso.
CityPenha:
E fazer uma gestão participativa não é fácil com
essa estrutura toda! Quantas pessoas compõem a escola?
Solange:
Estamos na faixa de mais de 3mil componen-
tes, divididos em 25 alas. E todos os componentes são de-
dicados, é todo mundo fazendo algo dentro da escola. Eu
acho que o resultado requer a ação do conjunto, é fruto de
toda essa união.
CityPenha:
No carnaval você tem que fazer a coisa meio
competitiva, mas ao mesmo tempo todo mundo tem que
se divertir. O intuito é o pessoal estar aqui, gostar, ir e ser
campeão, mas é também para se divertir?
Solange:
Com certeza, até por que todas as pessoas que
estão aqui são voluntárias, trabalham em colaboração. Elas
querem um resultado, mas tem que ser um trabalho pra-
zeroso, se não for prazeroso, não tem resultado. Então eu
acredito muito nisso. Não existe carnaval sem vibração,
sem diversão, sem alegria, sem energia. Infelizmente o
modelo dos desfiles de carnaval meio que tirou isso, en-
gessou por conta de regras, por conta de critério, de regula-
mento. Isso é uma coisa que eu sempre procuro falar com o
meu pessoal. Sempre procuro brincar, rir, extravasar, can-
tar, evoluir, mas sem perder a alegria e responsabilidade
daquilo que temos que traçar. É uma divisão complicada,
mas eles entendem que nosso foco é único, que nossa meta
é única: ser campeã. Então o foco é ser atingido e que é
sempre o mesmo. Sempre tentamos atingir esse patamar.
Juntamente com a comunidade, a gente chega lá.
CityPenha:
E o trabalho é o ano todo, não só na época de
carnaval?
Solange:
Isso mesmo, a escola tem muitos shows e atu-
almente eu trabalho com palestras, workshops, visitas para
muitas empresas, muitas faculdades. Para mim, isso já
virou um trabalho, a minha agenda vive lotada com tudo
isso. Então é uma forma de fazer as coisas seguirem adian-
te. A escola não para. Temos os trabalhos sociais, os proje-
tos sociais, tem todo um trabalho além do desfile, é e claro,
a escolha de enredo, a procura de novos parceiros. Tudo
isso é durante o ano todo.
CityPenha:
E cabe a você tentar manter a movimentação
de toda essa comunidade...
E
ntrevista
Solange:
A Mocidade Alegre é bem participativa, ela é
até um pouco carente de eventos e de situações que faça
a comunidade toda estar dentro da quadra. Então sempre
procuramos estar fazendo isso. Fazendo eventos e pro-
movendo alguma coisa na quadra, que beneficie toda a
comunidade, sempre temos algumas parcerias que tra-
zem alguma coisa que podem atendê-los.
CityPenha:
Essa parte social, vocês acabam fazendo
bastante coisa ligada a isso?
Solange:
Nós temos as oficinas. Temos oficina de mes-
tre sala e porta-bandeira, oficina de percussão, já tivemos
oficinas de entrelaçamento, de corte de cabelo, de ma-
quiagem. Só que infelizmente perdemos a quadra naque-
le incêndio, e agora estamos nos ajeitando.
Nós fazemos várias parcerias: fazemos corte de cabe-
lo gratuito, fazemos parceria com o Poupatempo para a
retirada de documentos, fazemos parceria com a Sabesp,
com um grupo de advogados para atender a comunidade,
estamos sempre buscando alternativas para que sempre
possamos atendê-los, que possa ajuda-los. Isso faz bem a
eles, e a nós também.
CityPenha:
E isso também está ligado a todo o amor que
a comunidade tem com a escola
Solange:
Eu acho que hoje as pessoas estão carentes
é de aconchego, de aproximação, de doação e de troca.
Hoje está muito diferente, a gente precisa resgatar um
pouco dessa coisa que ficou. Eu acho que eu devia ter
nascido na época dos índios, onde faziam trocas. Nin-
guém vendia nada. Trocavam uma fruta por uma palha
e assim por diante. Acho que era bem mais válido isso.
CityPenha:
Você vê alguma dificuldade por ser mulher
e ser presidente de uma escola de samba?
Solange:
Nunca senti isso, até porque eu me imponho,
tenho opinião própria, para não ficar entrando nessa onda
para ficar administrando esse tipo de coisa. Sigo adiante,
vou em frente. E na Liga Independente das Escolas de
Samba tem muitos homens. São 3 mulheres no total, que
sou eu, Angelina Basílio, presidente da Rosas de Ouro e
a Dona Guga, presidente do Morro da Casa Verde. Mas
na hora de falar, peço a palavra e começo a falar normal
assim como eles, de igual para igual.
CityPenha:
E dentro da comunidade você também não
tem problemas com isso?
Solange:
Sem problemas. Sou nascida e criada aqui. A
escola sempre foi de um âmbito familiar, então isso para
mim meio que indefere. Na realidade, aqui até sou meio
brava. As vezes eles tem medo, pensam “não vou falar
com a presidente hoje por que ela não está muito bem”.
Mas isso é normal, afinal é muita gente e muitos assuntos
para resolver. Às vezes tem coisas que só vai no tranco.
Às vezes tem coisas que vai na conversa. Não tem jeito,
é assim em qualquer lugar.
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