CityPenha Janeiro 2019
Janeiro / 2019 - nº 140 32 S aúde Por que as picadas de insetos coçam? Saiba como se proteger nesse verão por Larissa Leiros Baroni Verão é sinônimo de sol, praia, chuva, e também de mais mosquitos e, consequentemente, muita coceira. Mas, por que uma minúscula picada de pernilongo ou borrachudo é capaz de provocar tanto efeito? Como explica Ricardo Lourenço, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz, a saliva dos insetos é composta por um coquetel de proteínas - anticoagulante, vasodilatador, antiplaquetário - que facilita a absorção do sangue, mas acaba provocando uma reação alérgica em seu alvo (que no caso é você ou eu). "O que varia entre um inseto e outro é a quanti- dade dessas proteínas", afirma. Outra diferença entre as espécies de insetos comuns no verão, de acordo com o especialista, está na forma como eles bebem o sangue. Enquanto o pernilongo usa o bico como uma espécie de agulha para chegar até o sangue, o borrachudo e o maruim (mosquitinho do mangue), como têm o bico curto, rasgam a pele. "É justamente por isso que as picadas de bor- rachudo e maruim irritam e inflamam mais." A reação alérgica causada pelas picadas varia de pessoa para pessoa, como alerta Cristiana Abdalla, dermatologista do Hospital Sírio Libanês. Há pessoas que nem sentem nada, mas outras apresentam coceiras, vermelhidão e até inchaços no local da picada. O normal é que as coceiras se prolonguem por até cinco dias. Ela recomenda a visita a um médico em casos extremos. "Se você perceber que a sua reação à determinada picada saiu do habitual, vale procurar ajuda de um especialista." Isso porque, em casos mais graves, é possível que uma simples picada de inseto cause um choque anafilático, uma reação alérgica que dificulta a respiração, causa náuseas, vomito, tontura, sensação de desmaio, suores intensos e au- mento dos batimentos cardíacos. "Não são comuns, mas são possíveis", destaca Lourenço. Pode coçar? Quem já foi picado sabe o quanto a coceira pode ser incontrolável. A notícia é que coçar está liberado, de acordo com Abdalla. "A coceira é um mecanismo de defe- sa e coçar pode aliviar um pouco o incômodo, mas cuidado. Certifique-se que está com as mãos limpas e evite usar as unhas para não irritar ainda mais a pele ou causar feridas, que podem ser a porta de entrada para uma infecção secundária." Há quem use cremes de cânfora, limão, aveia, vinagre e até amaciante de carne ou mel para aliviar a coceiras. Mas não há nenhuma comprovação científica de que essas dicas caseiras realmente ajudem a sanar o incômodo. Portanto, segundo Lourenço, é melhor evitá-las para não correr o risco de intensificar o processo alérgico ou até gerar um segundo problema. O pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz recomenda a boa e velha compressa de gelo, que "diminui o processo in- flamatório, a sensação de coceira e a vermelhidão". Amedida é paliativa. Cuidados preventivos: O importante mesmo é investir nos cuidados preventivos, destaca Lourenço. Isso porque, se- gundo ele, os insetos não só causam doenças, mas também são transmissores de muitos vírus e parasitas. "Além de causarem a reação alérgica, são potenciais transmissores de dengue, zika, chikungunya, febre amarela, malária, leishmaniose e filariose", ressalta o pesquisador. A dengue, a zika e a chikungunya estão presentes em todo o território nacional. Já a epidemia de febre amarela atinge 21 Estados (todo Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, mais o To- cantins, a Bahia e o Piauí). "Afilariose é mais comum no Norte e em partes do Nordeste, enquanto leishmaniose se desenvolve com mais frequência nas áreas de Mata Atlântica, principal- mente Rio, São Paulo e Espírito Santo", cita Lourenço. A recomendação é o uso de repelente, roupas compridas, mosquiteiros ou telas. Contar com a sorte, não é uma boa saída, já que todos estão sujeitos a picadas de insetos infectados ou não. "É claro que existem pessoas que atraem mais os insetos do que ou- tras. Mas isso não tem nada a ver com o sangue e, sim, com a composição das moléculas, influenciadas também pelos hor- mônios, que formam os odores do suor e do chulé", aponta o pesquisador. Segundo ele, as roupas mais escuras também atraem mais os mosquitos.
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