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Junho / 2017 - nº 121
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Namoro no século XXI:
Namorar ou ficar?
A sociedade atual está em estado de mutação constan-
te. Termos novos são criados, termos antigos são reinter-
pretados. Não há verdades absolutas e sim opiniões e ver-
dades particulares.
Os conceitos aprendidos em família não sobrevivem à
avalanche de deseducação encabeçada pela mídia e pelos
formadores de opinião. Aquele que não se adequar ao sis-
tema será considerado como “
anormal
”. Desse modo, im-
plica também as relações interpessoais que se estabelecem
de uma forma cada vez mais superficial e com interesses
particulares.
O relacionamento amoroso e o desejo pelo outro, tão an-
tigos quanto o próprio mundo sempre fizeram parte da hu-
manidade, apenas as suas formas de expressão é que foram
se contextualizando conforme as exigências das sociedades.
O Minidicionário Luft define namorar como procurar
inspirar amor a, cortejar, galantear; ser namorado de; apai-
xonar-se, enamorar-se, possuir-se de amor; andar em na-
moros com alguém. Até pouco tempo atrás, o namoro era
algo pré-nupcial, com regras bem-definidas e padrão co-
mumente aceito. Alguém, ao sentir-se atraído por outrem
do sexo oposto, procurava-o, propondo-lhe namoro. Esse
consistia em encontros constantes, com diálogos sobre os
dois, momentos de romance, abraços e beijos limitados,
com considerável reserva e planos para o futuro.
Com o advento da era pós-Beatles e o desenrolar do
movimento Hippie, o namoro sofreu grandes mutações.
Seus limites foram ampliados. Na década de 1980, a cha-
mada “amizade colorida” entrou em ação. Tratava-se de
algo diferente do namoro. Rapazes e moças mantinham
encontros com o compromisso de não terem quaisquer
compromissos! Com o passar dos anos o namoro conti-
nuou em processo de mutação.
Hoje os relacionamentos amorosos, o “
ficar
” caracte-
riza-se por ser efêmero, passageiro, fugaz, um relaciona-
mento breve e sem compromisso que poderá apenas ter a
duração de um beijo. Predomina nessa forma de relaciona-
mento a sensorialidade, a descartabilidade do outro e a não
obrigatoriedade do sentimento.
Um código de relacionamento marcado pela falta de
compromisso e pela pluralidade de desejos, regras e usos.
O objetivo principal é a busca de prazer ‘
Ficar com
’ é a
maneira mais fácil de chegar perto de um outro sem se
comprometer. É um exercício da sedução.
Onde tudo começa: o flerte
O flerte humano é uma espécie de ritual ou será uma
arte? Pode ajudar na compreensão das relações humanas,
parecendo evidente que uma pessoa que tenha pontos fa-
voráveis em sua autoestima, ocorre um aumento na proba-
bilidade de seleção de um parceiro que venha de acordo
com as suas expectativas e necessidades amorosas.
O alisar dos cabelos com as mãos, um olhar insinuan-
te, uma súbita piscada de olhos. Esses são, entre outros,
os movimentos mais conhecidos do emocionante jogo do
flerte ou paquera, que fazem parte do repertório da con-
quista entre os jovens e adultos. O flerte sempre antecede
aos namoros e até mesmo o ficar.
A atração física é o principal fator que determina um
relacionamento interpessoal, esse comportamento pode
ser resultado de uma sociedade capitalista, com a visão
no ter, dando um valor material para as pessoas, adotando
relações cada vez mais superficiais, nas quais a beleza é
mais valorizada do que o próprio ser em sua essência. Isso
institui o ficar como sendo o melhor, sempre acentuando a
“coisificação do outro”.
Essa situação atribui-se também às pessoas, tornando-
-as objetos de consumo, e estende-se às relações afetivas.
A partir da descrição desse quadro, podemos entender o
ficar como uma forma de consumismo, pois é um relacio-
namento fugaz e com uma troca sucessiva de parceiros.
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