Agosto / 2015 - nº 99
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D
estaque
Todo pai alimenta expectativas com relação ao futuro
dos filhos, seja no aspecto profissional, religioso, político
e até mesmo quando o tema é relativamente menos ex-
pressivo, como o estilo de se vestir, o gosto musical e o
time para qual irá torcer. Pensando num futuro feliz e de
sucesso para os filhos, muitos pais costumam tentar in-
centivá-los a seguirem seus passos. Ou, quando julgam o
próprio passado como ruim, esperam que os filhos tracem
caminhos diferentes dos seus. Muitos ainda se prendem à
autoestima, acreditando que um filho bem-sucedido é si-
nal de boa educação e instrução dos pais. Mas nem sempre
isso é possível, e os filhos fazem outras escolhas. Aos pais,
cabe lidar com essas frustrações. Segundo especialistas, o
segredo está no diálogo e na compreensão.
Para o Dr. Marcelo Katayama, 36, médico cirurgião,
terapeuta e instrutor de treinamento no Núcleo Ser, é co-
mum que os pais queiram que os filhos sigam seus exem-
plos ou coloquem em prática as sugestões, pois esperam
que, num futuro, possam ter mais cumplicidade e realizar
atividades juntos. "É muito natural um pai querer que os
filhos sigam as mesmas escolhas que ele fez. Percebo que
por trás deste desejo existe uma forma, até inconsciente,
de demonstrar carinho e afeto. Ao ter gostos parecidos fica
mais fácil compartilhar momentos juntos e isso fortalece o
laço familiar, desde que sejam genuínas de ambas as par-
tes", explica o profissional, ressaltando que também existe
a outra realidade, em que os pais, por terem vivido um
passado difícil, motivam os filhos a buscarem alternativas
diferentes, para evitar possíveis sofrimentos.
A expectativa é algo com que se lida desde a infância,
quando a criança espera ser alimentada, aguarda o presen-
te de aniversário, espera o carinho e a atenção. Ou seja,
ela é criada com base naquilo que as pessoas necessitam.
Segundo o Dr. Marcelo Katayama, a frustração começa a
se tornar aparente quando as pessoas se tornam mais cons-
cientes. "A partir de certa idade, passamos a processar de
maneira mais clara o pensamento. E esperamos que outras
pessoas atendam às nossas necessidades. A partir daí sur-
ge a frustração, porque é impossível que todas as nossas
vontades sejam realizadas", comenta Katayama, que está
à frente como instrutor de treinamentos no Núcleo Ser
desde 2009.
Com as mudanças ocorridas nos modelos de família,
hoje em dia é possível encontrar maior liberdade de es-
colha e se tornou natural colocar em debate o limite da
interferência dos pais nos processos de escolha dos filhos.
Saber até onde se pode influenciar na vida dos filhos é ta-
refa que exige bom senso, sobretudo. Segundo a Dra. Ina-
jara Simões da Cruz Santos, graduada em psicologia pela
Faculdade Ruy Barbosa, de Salvador (BA), e especialista
em terapia analítico comportamental pelo Núcleo Para-
digma, de São Paulo (SP), os pais devem procurar sempre
participar das decisões dos filhos, desde que isso ocorra
sempre de forma natural. "Partindo do pressuposto de que
aprendemos através das nossas experiências é fundamen-
tal criar os filhos para que eles possam fazer suas próprias
escolhas e saber lidar com suas consequências", diz.
O campo em que os pais geralmente mais gastam ener-
gia tentando moldar o futuro dos filhos é o profissional.
Muitos querem ver os filhos formados e atuando pelas
mesmas profissões. Para a Dra. Inajara, os pais têm papel
importante nesse processo de escolha, mas devem ter em
Com equilíbrio e bom senso,
pais podem ajudar a construir
as escolhas dos filhos
por Arilton Batista