CityPenha junho 2015 - page 66

Junho / 2015 - nº 97
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Germana:
A Boneca Inflável
C
rônica
Enquanto acontecia as últimas despedidas do senhor
Germano no velório da Igreja Matriz do simpático bairro
Penha de França, o qual seus fiéis frequentadores têm o
orgulho de vê-lo promovido à Santuário.
Pois bem, o senhor Germano repousava serenamente
a vida eterna num confortável caixão de luxo, se bem que,
para ele, naquele fúnebre momento, não fazia a menor di-
ferença, ele já não fazia mais parte do mundo dos vivos
para curtir este providencial conforto, diga-se de passa-
gem, graças a ele que em vida, precavido como era, pagou
um sofisticado plano funerário, com tudo que tinha direi-
to. Além do caixão, o cenário do velório era um luxo só,
levando algumas pessoas presentes a comentar mais sobre
o requinte da decoração do que do ator principal que nesse
momento fúnebre, por acaso, era o senhor Germano.
No decorrer do velório, alguns amigos chegados do
senhor Germano, estavam com as expressões tensas, su-
per preocupados com um inusitado problema para os pró-
prios resolverem, na verdade, um problemão!
No dia em que o senhor Germano morreu, ele esta-
va no banco do carona, num carro dirigido por um dos
seus amigos, Teleco, irmão de confiança que o levava para
casa depois de uma animada pescaria. Senhor Germano
já passara dos 80 anos, porém, tinha uma boa aparência,
era muito alegre e brincalhão. Ele sempre evitava deixar
transparecer ter inúmeras complicações de saúde. Aliás,
uma das coisas que ele mais detestava nessa vida, era fi-
car falando de remédios e doenças. Ele fazia questão de
levar uma vida supernormal, todos que conviviam com
ele o adoravam. Quis o destino que ele morresse igual
passarinho. Ele olhou sorridente para o seu amigo Teleco,
que estava atento no volante, deu o último suspiro e partiu
para o além. Seu amigo Teleco, alguns segundos após seu
último suspiro, olhou para ele, e achando que ele estives-
se dormindo, seguiu em frente. Só se deu conta do triste
acontecido, quando parou o carro em frente da casa do se-
nhor Germano. Desta vez, o coração do senhor Germano
fez a sua definitiva e última parada.
Voltando ao velório. Por estes mistérios da vida, que
não se tem diagnósticos precisos, alguns dias antes da sua
morte, o Senhor Germano comentara com o seu amigo
Teleco, um pequeno segredo: Ele tinha comprado uma
boneca inflável e chegou até a comentar a dificuldade que
era para enchê-la, já que ele sofria, dentre outras coisas,
de asma. E detalhou ainda, que por mais que se esforças-
se, não conseguia transar com a boneca, uma vez que sua
cara era horrorosa e quando no auge do ato, murchava
botando tudo a perder.
Teleco fez este comentário confidencial, com outros
dois grandes amigos do Senhor Germano: Fumaça e Be-
be-Todas. Segundo Teleco, o Senhor Germano a vida toda
teve uma imagem ímpar e respeitosa, perante a sua família
e a comunidade penhense, e além de ser muito trabalhador
a vida inteira, estava sempre fazendo uns bicos, mesmo
depois de aposentado. Ele era um católico fervoroso, de
não faltar um domingo sequer na missa. Mesmo depois
da sua amada esposa falecer alguns anos atrás, mantinha
a sua viuvez intacta. Nenhuma outra mulher assumiu o
posto da sua falecida. Ele fazia questão de ignorar os in-
centivos dos amigos e principalmente os incentivos dos
seus filhos a arrumar outra companheira.
Teleco convenceu os dois amigos, Fumaça e Bebe-
-Todas, aproveitando que toda vizinhança e familiares
estavam no velório do nosso ilustre personagem, para dar
um jeito de ir no sobradinho onde o Senhor Germano mo-
rava, para achar a boneca e desaparecer com ela. E foi o
que fizeram.
Quando chegaram na frente do sobradinho do Senhor
Germano, um problema não pensado: como iriam entrar
no recinto?
Fumaça, triunfante, exclamou para cima:
- A janela da parte de cima está aberta!
Os três improvisam uma pirâmide de uma só coluna.
Telêco, o mais forte, fez a base térrea. Bebe-Todas a 2ª
base e Fumaça, como era o mais magrinho e por isso mes-
mo o mais leve, foi o cume. A ponta da pirâmide.
Depois de algumas suadas tentativas, finalmente, Fu-
maça tem êxito. Rapidinho, Fumaça desce até a sala. Ele
pega um molho de chaves que estavam no sofá. Nenhuma
serviu na fechadura da porta da sala. Obedecendo a seu
fiel instinto, mexeu na maçaneta e para surpresa de to-
dos... a porta só estava encostada.
Porta aberta, Telêco e Bebe-Todas entram aflitos. Os
três sobem até os quartos. Foi mais fácil do que eles ima-
ginavam. A boneca inflável, toda feliz da vida, cheinha,
estava numa boa em cima do guarda-roupa. Telêco pe-
gou o criado mudo que estava junto da cama, encostou
no guarda-roupa e subiu para pegar a boneca, jogando-a
para Fumaça.
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