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Setembro / 2017 - nº 124
E
special 350 anos
temor em muitas famílias, pois se dizia que os negros tra-
ziam consigo a varíola. Nas primeiras décadas do século
18, as autoridades paulistanas conseguiram estabelecer um
acordo com os comerciantes de escravos: que os negros
ficariam em quarentena antes de entrar na cidade. Esse
período de espera era feito no Caminho da Penha. Diante
de sua importância para a região e da manutenção de sua
estrutura de taipa de pilão, a igreja foi tombada pelo Con-
selho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condepha-
at), em 1982. As manifestações religiosas se mantiveram
ao longo dos anos. Embora com menos entusiasmo do que
no passado, o dia 8 de setembro é, todos os anos, comemo-
rado. Até meados de 1970, na Avenida Celso Garcia havia
o desfile de carros que passavam apinhados de gente rumo
ao Santuário de Nossa Senhora da Penha de França. Nos
arredores da igreja eram armadas barracas de guloseimas.
Os devotos compravam muitos santinhos e medalhas, le-
vados depois para o vigário benzer. Mas ali também se
instalavam jogadores profissionais, com roletas, vísporas
e outros jogos da época.
A festa da padroeira de 1967, quando o bairro comple-
tava 300 anos, foi particularmente luminosa. Na ocasião
houve a inauguração da iluminação a mercúrio da Rua
Santo Afonso, local da basílica, e da Praça Nossa Senhora
da Penha, onde fica a igreja original.
Ao longo da história o trajeto para se entrar ou atraves-
sar o bairro continuava a ser feito pela Estrada da Penha
– atuais avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia. Durante
muito tempo, essa rota serviu não apenas a fiéis, viajantes
e sertanistas, mas também para a circulação de mercado-
rias e de comércio de animais.
A privilegiada topografia da Penha teve parte impor-
tante na sua história e no desenvolvimento da economia.
Com 1.500 metros de altitude, a Penha começou a ser pro-
curada no início do século 20 por famílias endinheiradas
em busca de ares mais saudáveis, recomendados pelos
médicos para recuperação de doenças respiratórias. Al-
guns compravam chácaras na região e instalavam ali suas
casas de veraneio, outros decidiram por se mudar para o
local. Muitos trocaram suas mansões dos Campos Elíseos
pela Penha.
Uma das senhoras da aristocracia paulistana a migrar
para a Penha foi Dona Carlota de Melo Azevedo, que pos-
suía várias chácaras na região. E o primeiro telefone do
bairro foi o instalado em sua residência.
Também em razão de sua geografia, a Penha seria o lo-
cal de pouso, em 1822, do então príncipe regente D. Pedro
I, que vinha do Rio de Janeiro. Segundo o livro A capital
da Solidão – Uma história de São Paulo das Origens a
1900, de Roberto Pompeu de Toledo (Editora Objetiva,
2003), ele deixou o Rio no dia 14 de agosto, parando com
sua comitiva para pouso em várias cidades do Vale do Pa-
raíba. “No décimo dia de viagem, 24 de agosto, chegaram
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