CityPenha dezembro 2014 - page 28

Dezembro / 2014 - nº 91
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Amúsicaea religiosidade
atravésdos tempos
Desde que o homem percebeu que precisava de “algo
mais”paracontinuarenfrentandosuas lutasdiárias, eolheque
isso já fazmuito tempo, percebeu tambémque seexpressasse
sua crença não apenas pelas orações,mas também incremen-
tando-as comum “plus”, amúsica passou a fazer parte dessa
crença toda independenteda religiãoa ser seguida.
Os registrosmais remotos encontrados pelos pesquisa-
dores dão conta de que os Druidas, povos antigos que ha-
bitavam parte da Europa como a conhecemos hoje, jáma-
nifestavam sua religiosidade com canções de evocação aos
seus deuses esperando agradá-los além dos sacrifícios to-
dos que a eles também ofertavam e vejam que esses povos
habitaram nosso planetamuitos séculos antes das religiões
como as conhecemos surgirem em nossas vidas!
Na verdade osDruidas não seriamos precursores dessa
ligação entre homem e deuses. Um a parte nesse texto se
faz necessário para explicar o próprio significado da pala-
vra religião que no latim significa religare. Registros ainda
muito mais antigos da história do homem em sua cami-
nhada por aqui mostram que além de esculpir em pedras e
rochas as cenasdocotidiano, ochamadohomemdas caver-
nas se dava ao luxo de desenvolver instrumentos não ape-
nas para caça mas também para poder tocar alguma coisa
parecida commúsica.
É arriscado afirmar que a religião e amúsica sempre ca-
minharamdemãos dadas porém, ninguémpodenegar a for-
ça que ela, amúsica, acabaria imprimindo na vida religiosa
de todosnós.Dandouma rápidapassadapelaÁfrica, oberço
da humanidade, descobrimos que os cantos
religiosos sempre fizeram parte dos cul-
tos dirigidos aos deuses fosse em cele-
brações, fosse nos preparativos para a
guerra, onde a ajuda divina sem-
pre era mais que bem vinda,
fosse em rituais dos mais
diversos significados.
Se o berço da huma-
nidade sempre agiu assim,
o que dizer do chamado
berço da civilização – a
Grécia, onde os vários deu-
ses erammerecedores de can-
çõesparaaceitaremdar aquelaajuda-
zinhaao seremevocados?Osgregos
de umamaneira geral ensinaramou
solidificaramas raízesdessaestreita
ligaçãoentrecantareorar.Comaascensãodo império roma-
no, estenão somente tomou emprestado esses deuses gregos
trocando-lhe os nomes, como também adotou cântigos e hi-
nos usados nasmais diversas cerimônias.
E se os romanos procederam assim, sabiam que um ru-
far de tambores ao longe significariam uma batalha próxi-
mapois eracomesseexpedientequeos chamadosbárbaros
ou seja, povos que não se curvavam ao julgo dos romanos
cadenciavam suamarcha para guerrear.Acredito quemui-
tosdenós tenhamassistidoaalgumfilmeondeosbarcosde
guerra eram impulsionados pelos remadores cadenciados
por um tocador de tambor.
É interessante notarmos que os povos navegadores da
Península Ibérica (EspanhaePortugal) quasenuncaadicio-
navam cantos e hinos em suas práticas religiosas, limitan-
do-se a poucas partituras gregorianas. Ao desembarcarem
no NovoMundo – aAmérica, se encantaram com as dan-
ças dos nativos daquele novo continente que compunham
o cenário das noites ao redor de fogueiras e causavam um
certo transepara a comunicação com suas divindades. Essa
prática mereceria destaque nos relatos enviados às coroas
que comandavam aquelas nações principalmente pela di-
versidade que apresentavam!
Essedeve ter sidoo legadodeixadoparaqueosmissioná-
riosqueemordas seencaminhariamparaessas“terrasnovas”
passassem a entoar hinos visando aproximar aquela “gente
esquisita” para a religião que iriam impor pelo bem ou pelo
mal a eles! E essa preocupação em cantar enquanto oravam
permaneceria séculos a frente sendo desenvolvida cada vez
mais não apenas pelos católicos responsáveis pela então cha-
mada catequese como também pelos seguidores protestantes
que passariam a vir em número cada vezmaior logo após a
chamada cisãopromovidaporMartinhoLutero eque serviria
debaseparaasdiversasvertentesdos evangélicos.
Hinos, canções,mantras, não importa, importanteéquea
música sempre esteve presente nasmanifestações religiosas
tantodospovosdaantiguidadecomonoscultosatuais sendo
queessapresençaseconsolidaepõeemmarchaummercado
crescente e que, não poderia ser diferente, movimenta além
da fé, milhões em dinheiro sempre com a máxima de que
deuses ouDeus aceitarãomuitomais
atençãoospedidosque lhe foremdiri-
gidos se estes estiverem acompanha-
dos deumaboamúsica!
BrunoSaike
•músico e vocalista da
BandaHeSaike
M
úsica
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