CityPenha dezembro 2014 - page 37

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Dezembro / 2014 - nº 91
Historiadores descrevem como, especialmente apartir
da revolução industrial, o afeto começa a ser considerado
como a base da vida familiar.
Na antiga mentalidade, o pai tinha todo poder sobre
os filhos, como o senhor sobre os seus escravos; eles per-
tenciam-lhe em propriedade plena, porque os fizera; ele
nada lhes devia.
Os filhos, encarados como mão-de-obra para a em-
presa familiar, segurança na velhice ou meio de perpe-
tuação da linhagem, passam a possuir um valor, antes de
tudo, afetivo.
Na Europa, no fim do séculoXVII e início doXVIII,
ocorreu umamudançamarcante no lugar da criança e da
família.Aafeição tornou-se necessária entre os cônjuges,
e entre os pais e os filhos. O “sentimento de família” nas-
ceu simultaneamente com o “sentimento de infância”:
comoobjetivodemelhor cuidar de suas crianças, a famí-
lia recolheu-se da rua, da praça, da vida coletiva, em que
antes se encontrava.
Paulatinamente, através dos séculos, o valor social da
linhagem transferiu-se para a família conjugal. Quando
essapassagem se consolidou, a família tornou-sea“Célu-
la Social”, a “Base dosEstados”.
Com a difusão das relações igualitárias, a autoridade
patriarcal reforçada pela comunidade tornou-se intolerá-
vel, os membros da família passaram a sentir muitomais
solidariedade uns com outros.
Passou-seaprivilegiar emarcar as semelhanças físicas
entre pais e filhos, inclusive nas situações de adoção. A
criança tornou-se a “imagemviva de seus pais”.A família
assumiuuma funçãomoral e espiritual. Os pais tornaram-
-se responsáveis pela criação de seus filhos, mudando a
concepção de educação.
O casamentopor amor só foi defendido abertamenteno
séculoXIX, quandooessencial docapital herdadopassoua
serocapital cultural: as transformaçõeseconômicas, advin-
das da Revolução Industrial, permitiram as condições ma-
teriais necessárias parauma liberaçãoda escolha conjugal.
Quanto à relação conjugal, o casal moderno pauta-se
pelo comportamento expressivo, enquanto o casal tradi-
cional achava-se limitado aos seus papéis, sem “procurar
saber se eram felizes”.
Podemos observar a diferença que nos separa da antiga
sociedade pela relação pais-filhos e pelos sentimentos sur-
gidos e expressos na convivência doméstica: de um lado os
“maus sentimentos”geradospelopoder total, direitodevida
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