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Dezembro / 2016 - nº 115
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Não é só na fase adulta que o assunto FELICIDADE
(ou a falta dela) vem à tona. Já lemos, ouvimos e presen-
ciamos tantos casos de jovens e até de crianças que sofrem
com depressão nos dias de hoje. Então, nada mais atual e
pertinente do que “discutir a felicidade” com nossos pe-
quenos. E é exatamente isso que faz o longa-metragem da
Dreamworks, o colorido
Trolls
. Trata-se de uma produção
divertida e, ao mesmo tempo, muito sensível.
As criaturinhas
Trolls
são alegres, natural e verdadei-
ramente felizes. E demonstram isso cantando, dançando
e se abraçando. E daí, qual é o problema? E daí que a
felicidade incomoda aqueles que não conseguem nun-
quinha desamarrar a carranca! Esse é o caso dos
Bergens
- monstrinhos feios, caras fechadas, que só encontram a
felicidade ao devorarem um
Troll
. Ou seja, a felicidade
vem de fora, é “engolida”. Bela metáfora, não? Para os
mal humorados dos
Bergens
, os
Trolls
são, nada mais nada
menos, o que o dinheiro, a melhor posição no emprego, o
peso ideal, o cabelo liso, o carro importado, a viagem que
o vizinho fez e o par perfeito são pra gente. Ou o que brin-
quedo caro, a boneca da coleguinha, o resort mega master
demais são para as crianças. Tudo externo. Tudo fora da
gente. Tudo pronto para ser devorado (ou consumido?).
Sorrir apenas pelo grande motivo de estar vivo? Abra-
çar pelo simples desejo de agradecer pela vida? Pelo
companheirismo? Pelo sol? Pela saúde? Por uma segunda
chance? Hoje em dia isso é tão “estranho”, tão raro, que
os
Trolls
parecem de fato serem fantasiosos para nós. E
os
Bergens
? Derrotados, conformistas, sempre esperando
pelo pior, privando-se da felicidade simples de uma boa
companhia, de um bom aconchego, de um momento, de
um curto e eterno momento. Será que eles são mesmo se-
res tão imaginativos assim? Ou refletem muitos de nós -
crianças, adultos e idosos? Quem somos nós: Bergens ou
Trolls? Quem são nossas crianças? Quem deveríamos ser?
Uma outra figura muito contemporânea no filme é o
curioso Tronco (
Branch
, na versão em inglês). Original-
mente um
Troll
, esse rapazinho perdeu a cor, perdeu o
brilho e ficou, literalmente, “cinza” – baixo astral, pessi-
mista, reclamão, sempre esperando o pior. E por quê? O
que tirou a vivacidade desse
Troll
? Ah, a mesma coisa que
deixa a vida de tanta gente nublada: a decepção, a frustra-
ção, a desilusão... Tronco sofreu um forte golpe do destino
e apagou dentro dele a chama da felicidade. Passou a ser
aquele ser que só prevê o mal, que não faz um comentá-
rio positivo, que só reclama, que sempre tem uma história
pior pra contar. Conhece alguém assim?
E onde está a magia de
Troll
, então? O que faz desse
filme tão especial? O óbvio. Isso mesmo, o óbvio. O final
feliz clichê não desaponta: Tronco ainda tem dentro dele
uma sementinha de felicidade. A sementinha é germina-
da pelo amor que descobre sentir pela princesa Pop, uma
Troll
também. Ele descobre a felicidade que está adorme-
cida dentro de seu ser. Ela, Pop, que também havia ficado
meio “cinza” com as desilusões de sua trajetória, volta a
ser um verdadeiro arco-íris. E sua alegria contagia, espa-
lha-se e colore definitivamente a escuridão dos
Bergens
.
Happy end
!
Que bom para as nossas crianças poder assistir na telo-
na o óbvio vencendo e imperando. Que maravilha verem
numa grande produção que a felicidade é simples, óbvia e
mora bem dentro da gente e só a gente pode permitir que
ela seja liberada e compartilhada. Em
Trolls
, a simplicida-
de e, ao mesmo tempo, a intensidade com que se fala sobre
“ser feliz”, são altamente recomendáveis não só para as
crianças, mas, principalmente, para muito marmanjo por
aí. E que deixemos nossos
Trolls
aflorarem!
Trolls também discute
a felicidade!
C
omportamento
Cláudia Fernandes
• professora, jornalista, tem 35 anos e é mãe do
Breno e do Davi.
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