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Março / 2016 - nº 106
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Separamos, e as crianças?
Psicóloga explica qual a melhor maneira de contar aos filhos sobre o divórcio
C
omportamento
A separação é um momento difícil, principalmente se o
casal tiver filhos. Não importa a idade, para eles é sempre
complicado aceitar e entender a decisão dos pais de não vive-
rem mais juntos. A psicóloga do São Cristóvão Saúde, Aline
Cristina de Melo explica a melhor forma de abordar o assunto
e ajudar as crianças a lidarem com o divórcio.
Para a profissional o melhor momento para informar aos
filhos é quando esta decisão está seguramente resolvida pelos
pais, “isso evita gerar angústias desnecessárias para a criança
ou adolescente, caso eles mudem de ideia”. Não existe receita
para dar essa notícia aos filhos, mas Aline lembra que adapta-
ção do discurso para a realidade dos pequenos e a sinceridade
são pontos que devem ser levados em conta, “posicioná-los
sobre a separação de forma clara, sincera e verdadeira, trans-
parecendo tranquilidade e segurança faz com que a criança
identifique tais sentimentos e apazigue sua angústia por meio
deste acolhimento. Não há necessidade de expor os reais mo-
tivos do divórcio, porém é muito importante que fique claro
para a criança que ela não teve qualquer culpa ou participação
nesta decisão”.
Paciência e sensibilidade também são muito importantes
diante das dúvidas que surgirão no decorrer deste processo,
“na grande maioria dos casos a criança não absorve bem a
notícia, pois tal aspecto implica no surgimento de muitas fan-
tasias em suas mentes que vão desde a culpa e a contribuição
delas para a separação, até a possibilidade do divórcio afetar
no amor que os pais sentem por ela. Fora a angústia da ausên-
cia do pai ou da mãe que sairá de casa”. Aline Melo comenta
que a rejeição da criança pode ser temporária, “ela dura até
que perceba que embora sua rotina mude, o carinho e amor
que recebe dos pais não mudará”. “Com o tempo essa reação
de rebeldia tende a se dissipar conforme a criança recupera a
segurança em sua família e nos laços afetivos com os pais”,
acrescenta a psicóloga do São Cristóvão Saúde.
Em alguns casos as crianças podem apresentar uma mu-
dança no seu comportamento e no seu rendimento em algumas
atividades, inclusive na escola. Quando isso acontece, Aline
Melo conta que é importante que os pais juntamente com seu
filho reflitam sobre o que pode estar interferindo. “A falta de
motivação para as atividades pode estar ligada a aspectos emo-
cionais relacionados a dificuldade em compreender e aceitar a
o divórcio, como também uma forma de chamar atenção, mes-
mo que seja através de um aspecto negativo e prejudicial”, diz
a psicóloga do São Cristóvão Saúde. Aline aconselha que os
pais conversem com os educadores sobre ao assunto, “investi-
guem se a criança expõe suas insatisfações e angústias perante
a separação dos pais em ambiente escolar, essa é também uma
forma de compreender melhor o que ocorre”.
Segundo a especialista, evitar expor os filhos aos conflitos
do casal deve ser a maior preocupação dos pais, “é importante
salientar que os filhos não devem ser usados para afetar o ou-
tro, isso poderá se refletir negativamente na criança. Um pai
não pode falar mal do outro para a criança, o ideal é que eles
saibam separar a relação deles como casal da relação deles
como pais”. A dica da profissional é que eles mantenham um
relacionamento saudável, ou pelo menos, tenham um diálogo
cordial, “ter um bom relacionamento é importante pois eles
precisam dialogar e se organizar quanto aos cuidados, aten-
ção e rotina dos filhos, que perceberão que sua família passou
por uma grande mudança, mas que tal situação não afetou no
carinho e amor dos pais. Quando isso acontece, os filhos per-
cebem que não há motivo para sentirem-se abandonados”. Em
alguns casos a separação traz alívio, principalmente quando as
situações de conflitos vivenciados pelo casal eram presencia-
das pelos filhos, “muitos pais depois da separação conseguem
até melhorar a convivência com as crianças, gerando uma re-
lação ainda mais próxima” diz a psicóloga. “Caso a criança
tenha dificuldade em lidar com todas as mudanças causadas
pela separação dos pais, a psicoterapia pode ser um auxílio
valioso na compreensão dos sentimentos e nas mudanças que
serão enfrentadas” finaliza a psicóloga.
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