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Novembro / 2016 - nº 114
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É de conhecimento da maioria das pessoas que o Bra-
sil é laico, ou seja, onde a religião não deve ter interfe-
rência nas tomadas de decisão do Estado, tendo como
o mais importante conceito, nesse sentido, a liberdade
e a tolerância. O país, por pertencer a América do Sul,
está bem distante dos maiores índices mundiais em torno
da violência proveniente da fé, mais comum em países
como China, Egito e Iraque, por exemplo. Porém, os nú-
mero de denúncias e ocorrências de intolerância religio-
sa alavancaram significativamente entre 2011 e maio de
2016. Segundo dados da Secretaria de Direitos Huma-
nos, nesse período o Disque 100 (disque-denúncia) teve
um aumento de mais de 3.700% nos casos envolvendo
religião, o que talvez reflita a necessidade de uma reava-
liação e reeducação nesse aspecto por parte dos brasilei-
ros - cristãos ou não.
No ano passado dois casos especiais de intolerância
ganharam destaque na imprensa. No mês de junho, no
Rio de Janeiro, a jovem Kailane Campos, de 11 anos,
foi apedrejada logo após sair de um culto de candomblé.
Ainda no mesmo ano, em novembro, um terreiro de can-
domblé foi incendiado no Distrito Federal (DF) - as cinco
pessoas que dormiam no local não sofreram lesões. Se-
gundo matéria publicada no portal da BBC Brasil no dia
21 de janeiro deste ano, o fato de as religiões de matrizes
africanas sofrerem mais com a questão da violência no
Brasil se dá também por conta de questões históricas,
como o racismo e o preconceito. As agressões, segundo
um estudo feito pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro/RJ), incluem desde as mais
graves, como invasão, furto e incêndios, até pichações
em muros, xingamento, publicações nas redes sociais e
quebra de símbolos religiosos.
Para Nadir de Almeida, 64, chefe e pai de santo do
Terreiro de Umbanda Caboclo 7 Flechas, localizado na
Vila Granada, a questão da intolerância vai além da re-
ligião e é preciso, dentre outros fatores, do desenvolvi-
mento do bom senso para ser combatida. "Infelizmente
não é só a intolerância religiosa que afeta as pessoas.
Temos intolerância conosco, com a família, com os ami-
gos, com a vida e com tudo que é novo ou não entende-
mos. Somente com a educação, conhecimento, respeito
e bom senso é que vamos poder reformar nossa vida em
sociedade", comenta. Nadir conta nunca ter havido, nos
mais de 40 anos em que ele faz parte da comunidade,
nenhum problema envolvendo intolerância ou violência
e que o terreiro está sempre à disposição no que puder
auxiliar, sejam membros ou pessoas de outras religiões.
"Entenda que quando falo terreiro estou fazendo refe-
rência às pessoas que o formam", ressalta.
Na região desde 1978, a Primeira Igreja Batista da
Penha também defende a ideia da liberdade religiosa e
carrega isso como um de seus princípios básicos. Pas-
tor titular da entidade, Eliezer Victor Pereira Ramos, 33,
explica como a PIB Penha encara a questão e trabalha
a ideia junto aos fiéis. "Cremos que tal liberdade não
é privilégio para ser concedido, rejeitado ou meramen-
te tolerado – nem pelo Estado, nem por qualquer ou-
tro grupo religioso. É um direito outorgado por Deus",
diz. Ainda sobre a a liberdade individual, o pastor faz
referência bíblica e comen-
ta sobre a importância do
amor para lidar com as di-
ferenças: "Jesus nos disse
'Ame o seu próximo como
a si mesmo' (Mt 22:39) e
em outro momento afirmou:
'Assim, em tudo, façam aos
outros o que vocês querem
que eles lhes façam' (Mt
7:12). Só nestes dois gran-
Estado laico,
Brasil luta contra a
intolerância religiosa
D
estaque
por Arilton Batista
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