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Setembro / 2016 - nº 112
52
Marcos Cintra
• Doutor em Economia pela Universidade
Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação
Getulio Vargas
Maldita corrupção
Todo ano a ONG Transparência Internacional di-
vulga o índice de percepção de corrupção no mundo. É
um indicador que mostra onde a maracutaia corre mais
solta. O relatório mais recente mostra que em 2015
foram avaliados 168 países e o Brasil ficou em 76° lu-
gar. O país ficou com 38 pontos, 5 a menos em relação
a 2014, e teve o pior resultado de uma nação quando
comparado com o levantamento do ano anterior.
O último relatório da entidade revela que o Bra-
sil divide seu vexatório posto da malandragem com
Bósnia e Herzegovina, Burkina Faso, Índia, Tailândia,
Tunísia e Zâmbia. De acordo com a ONG a queda ex-
pressiva do país no ranking deve-se a roubalheira que
tomou conta da Petrobrás. Em um comunicado a enti-
dade diz: "Não é surpreendente que o Brasil, afetado
pelo maior escândalo de corrupção de sua história pelo
caso Petrobrás, tenha sido o país da América que mais
caiu no índice este ano".
É muito triste, mas a situação brasileira no ranking
da corrupção já não causa nenhum espanto. A malan-
dragem continua sendo uma endemia. Uma vergonha!
Países latino-americanos como Chile e Uruguai são
apontados como menos corruptos que o Brasil.
Conforme sempre aponta a Transparência Inter-
nacional, a corrupção nos grandes projetos públicos é
um dos maiores canais de desvio de dinheiro público e
representa um enorme entrave para o desenvolvimento
de um país. Os recursos roubados dos cofres públicos
diminuem os investimentos em áreas vitais como saú-
de e educação e nas ações de combate à pobreza.
É revoltante ver o que acontece com o suado di-
nheiro do contribuinte brasileiro entregue ao poder
público. A classe média não aguenta
mais pagar tanto imposto e ver que
parte dos recursos vai pelo enorme
ralo da corrupção. Para piorar, sofre
os terríveis efeitos do aumento da mi-
séria causada pela carência de inves-
timentos sociais.
O Brasil precisa empreender uma
faxina gigantesca em suas institui-
ções. É necessário combater esse tu-
mor maligno impregnado na vida
pública que é a corrupção. Não é pos-
sível que o brasileiro tenha que traba-
lhar mais de quatro meses no ano para
abastecer o Estado e uma minoria se
aproprie de recursos públicos de ma-
neira inescrupulosa e sorrateira.
O princípio da restrição orçamen-
tária vale para qualquer agente eco-
nômico. Mais do que crescer, o país
precisa resgatar uma enorme parcela
marginalizada da população. Tudo
isso demanda recursos que precisam
ser aplicados de modo eficaz e eficiente. Com orça-
mentos públicos já insuficientes frente à grande de-
manda social, torna-se dramático investir com a cor-
rupção comendo parte do dinheiro.
Tanto a grande corrupção, que envolve somas vul-
tosas como o superfaturamento de obras e as fraudes
em licitações e concorrências, assim como a pequena
corrupção, traduzida em valores relativamente baixos
de subornos e propinas, condenam cada vez mais pes-
soas à miséria material, moral e intelectual.
O país deve ser passado a limpo. A degradação mo-
ral dos que deveriam zelar pela eficiência na gestão
pública e pela qualidade de vida do cidadão contribui
para a proliferação da violência e da ignorância.
O
pinião
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