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Especial 10 anos / 2016
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Raffaeli Fábio Roesler ressalta, porém, que o cuidado
deve sempre ser tomado. “Há casos em que não há essa
identificação e, a grosso modo, podemos dizer que [os
filhos] tentam comportar-se de modo distinto, gostando
e fazendo aquilo que o pai ou a mãe não fazia. Definiti-
vamente, o pai que bebe na presença do filho pode sim
levá-lo a beber posteriormente, mas isso vai relacionar-
-se muito mais com a questão de uma identidade ou não
identidade com o pai”, explica Roesler.
O atual modo em que a sociedade se encontra ainda
possui resquícios de preconceito e é habitual a discri-
minação, apesar de ter ocorrido uma evolução signi-
ficativa desde os tempos da Ditadura Militar (1964 –
1985), quando havia forte repressão com os artistas e
pensadores. Muita gente – os mais tradicionais e parte
dos religiosos – ainda acredita que pais tatuados, com
piercing, brincos, cabelos compridos ou pertencentes a
alguma tribo urbana, por exemplo, não têm potencial
para exercerem um bom papel ou que servem de mau
exemplo para os filhos. Esse é um cenário que vem
mudando, mas que ainda está presente no convívio so-
cial. Essa ótica, entretanto, de que pais que fogem aos
padrões esperados pela sociedade, são contraditórios.
Para o sociólogo Rócio Barreto, mesmo que as crianças
tenham vontade de fazer tatuagem, brinco, piercing, o
que deve ser ressaltado são os valores morais. “Tatua-
gem, brinco, cabelo comprido podem e vão despertar
um comportamento semelhante nos filhos, mas o que
vai prevalecer na vida dessas pessoas é o caráter, o
respeito, a educação de berço; o que não impede des-
sas pessoas adotarem um estilo diferente. Não adianta
o sujeito ser bem arrumado, dentro dos padrões que a
sociedade considera normal e ter um péssimo caráter,
ser um mau exemplo para os filhos, uma pessoa de má
índole”, diz.
Maurício Martins, 31, jornalista, assessor de comu-
nicação, músico, escolheu há três anos fazer uma tatu-
agem e é pai da pequena Maria Stella, de dois meses e
meio. Para ele, o fato de ser tatuado não é capital no
sentido de definir se a Stella fará ou não uma arte na
pele. Ele sustenta essa opinião com base em sua própria
história de vida. O pai de Maurício sempre trabalhou
com mecânica e ele, por mais que tenha convivido cons-
tantemente próximo dessa profissão, não teve interesse
nem por aprender a dirigir. “O mais importante é de-
monstrar que minha filha poderá contar comigo no que
ela escolher para a sua vida, mas claro que irei buscar
orienta-la da melhor forma possível. Pretendo ensiná-la
que as decisões devem ser baseadas no que ela acreditar
ser o melhor pra ela. Não é porque eu tenho tatuagem
que ela precisará ter uma também. E, se quiser fazer,
que seja pelos motivos dela, no momento dela e não
apenas porque o pai dela tem”, comenta o jornalista.
Sobre uma possível idade adequada para fazer tatu-
agem, caso esse seja o intuito de Maria Stella, Maurício
Martins acredita que não exista uma idade certa, que o
principal fator impactante é a mesmo a maturidade com
relação ao tema, porque muitos ainda, na empolgação,
acabam desenhando no corpo por modismo. Martins,
porém, não vê isso como um lado ruim de se fazer tatu-
agem. “A única coisa negativa da tatuagem é que ainda
existem pessoas preconceituosas e que acreditam que
ter tattoo significa que você possui algo errado, o que
obviamente está equivocado. Sem dúvida o preconceito
hoje é menor que há dez anos, por exemplo, mas ele
ainda existe”, diz.
Em meio a todas as teorias e princípios sobre o que é
ser um bom pai, é importante destacar que, mesmo que
alguns acreditem que a aparência ou o âmbito material
seja muito importante para a formação dos filhos, o que
mais se deve levar em conta é o comportamento, a pos-
tura, o caráter, enfim, os valores de fato. Especialistas
dizem que, apesar de não haver uma receita do bom pai,
é possível aplicar algumas atitudes que contribuem para
uma boa formação da criança, do filho. É indicado que o
pai seja participativo efetivamente. Ou seja, que não se
interesse pela vida escolar dos filhos somente quando o
boletim chega com as notas ou querer saber como anda o
desempenho na natação apenas na véspera de um torneio.
Outro aspecto que muitos pais confundem é com relação
aos campos material e afetivo, e costumam defender que
“não falta nada para o filho”. É primordial que o pai es-
teja presente, que troque carinho, que converse com os
pequenos. Pode ser essa a falta, e não um brinquedo, um
jogo. Entre muitas outras características que podem aju-
dar o pai na criação e educação dos filhos está o equilí-
brio entre o autoritarismo e a permissividade.
O psicólogo Fábio Roesler enxerga que a figura pa-
terna tem de transparecer aos filhos, sobretudo, prote-
ção e acolhimento. “Um bom pai é aquele que melhor
encarna uma posição impossível, pois tem que passar
uma proteção ilimitada e um suposto saber total, isto é,
deve passar ao filho que sempre o protegerá, que sem-
pre estará acima do que o mundo pode causar a ele, e
que tem todo o conhecimento da vida necessário para
se saber viver”, diz. O sociólogo Rócio Barreto com-
preende e destaca que os ensinamentos do pai devem
ter como base o respeito às diferenças, principalmente
as que envolvem as minorias da sociedade. “Não exis-
te padrão. Ser um bom pai é dar uma formação inicial
de caráter, formar pessoas com afeto, baseado em la-
res onde o respeito ao próximo seja efetivo”, comenta
Barreto, que finaliza exaltando o valor de se educar os
filhos a serem afetuosos. “É importante participar da
vida dos filhos, ensinando e educando a serem pessoas
com sentimento e amor ao próximo, o que produz laços
de confiança em todas as escalas da vida”.
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