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Especial 10 anos / 2016
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Tem coisa que pinta do acaso, que você não sabe o
porquê”, conta. A maioria dos bordões feitos pelos radia-
listas, porém, são utilizados nos momentos mais empol-
gantes do jogo, quase sempre na hora do gol ou quando
ele se aproxima. Ou seja, é mais comum ouvir um bordão
quando o jogo está bom, com bastante ataque, com as
equipes procurando o gol. E um desafio para o narrador é
fazer a transmissão daqueles jogos tidos como fracos, em
que as duas equipes estão em baixo rendimento. O ouvin-
te não tem o apoio da imagem, e o locutor tem de levar
a emoção pelas ondas do rádio até os ouvidos do torce-
dor. Um verdadeiro
desafio. “O segre-
do é colocar sen-
timento, vibração
naquilo que se está
fazendo. O jogo
de futebol normal-
mente é vibrante,
emocionante. Em
todos os jogos eu
procuro
relatar
exatamente aquilo
que está aconte-
cendo. Quando o
jogo é ruim eu falo
mesmo. Falo que
está horrível. Eu
não posso enganar
o ouvinte”, explica
Oswaldo.
Situação con-
trária a essa é quando aquele que tem o papel de levar a
emoção para torcedor com a sua voz e empolgação não
está num bom dia. Questões familiares, de saúde, finan-
ceira ou até mesmo um mal estar pode estar presente a
qualquer momento na vida de qualquer um, inclusive na
dos narradores de futebol. E eles precisam driblar o baixo
astral para atuar de maneira fiel com o ouvinte. “É difícil,
mas dá para dissimular bem o problema particular com
o momento do jogo. Na hora da narração você conse-
gue esquecer quase que tudo. Você tem que prestar muita
atenção e acaba se envolve tanto que a vida particular
parece ficar um pouco de lado. Eu digo que somos como
os palhaços no circo. Mesmo com problemas em casa,
eles têm que fazer o público se divertir. É o que acontece
coma gente”, exemplifica.
Há quem utiliza algumas técnicas específicas para tra-
balhar naqueles dias em que não está muito bem emocio-
nalmente, quando acorda com o pé esquerdo. José Mano-
el de Barros, integrante da equipe de esportes da Jovem
Pan, conta que procura ter a consciência e primeiramente
reconhecer que aquele determinado dia não está como ele
deseja. Depois, tenta reiniciar a narração de uma maneira
diferente, a fim de fazer melhor que antes. “Se isso não
funcionar eu parto para uma narração mais técnica, para
cumprir a obrigação. Porque não adianta eu tentar fazer
coisas muito diferentes. Faço de tudo para não compro-
meter”, conta Barros, que defende a ideia de que nar-
rador esportivo precisa ter dom para seguir na carreira.
Para ele, a formação acadêmica é importante para defi-
nir o ramo se ser seguido, por exemplo, de radialista ou
jornalista. Mas, para ser narrador, é preciso, sobretudo,
ter vocação. “Você tem que sentir a emoção para poder
passar. Depois vem a técnica”, defende.
Na Jovem Pan desde agosto de 2000, há mais de 13
anos, o narrador Rogério Assis conta que um dos dois
momentos mais marcantes de sua carreira foi justamente
quatro meses após ser contratado pela emissora, na final
da Copa João Havelange daquele ano, entre Vasco e São
Caetano, em São Januário. A partida foi marcada pela
queda de parte da arquibancada do estádio. “Eu estava
com o Wanderley Nogueira lá. Foi uma passagem mar-
cante e muito triste. Felizmente não morreram pessoas.
Era um cenário de guerra. Nunca imaginei um dia ver
aquilo”, relembra Assis. Já o segundo episódio que mar-
cou sua carreira foi em 2012, quando teve a oportunida-
de de narrar um golaço feito por Neymar, no jogo entre
Santos e Internacional, válido pela Copa Libertadores.
No lance, o jogador rouba a bola no campo de defesa e
arranca, passando por vários adversários da equipe colo-
rada, até chegar na área e tirar do goleiro. “Essa narração
não é perfeita. Porque em determinados momentos eu
não sou narrador. Eu começo a torcer pelo Neymar. Eu
começo torcer para que ele faça o gol, tamanha plástica
e beleza da jogada. Eu começo narrando e, a partir de
um certo ponto, passo a torcer, como alguém da arqui-
bancada”, finaliza Rogério. Essa narração foi traduzida e
reproduzida por emissoras do Japão e dos Estados Uni-
dos, mostrando a empolgação de Rogério Assis naquele
momento.
José Manoel de Barros
Rogério Assis
A
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