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Especial 10 anos / 2016
80
A
no 8
Matéria publicada na edição 77
Contrariando alguns, o rádio não sobrevive apenas.
Ele vive. E bem. Em meio a tantos meios de comuni-
cação, indo da TV a internet, passando pelos jornais,
revistas e transitando pelo universo móbile – dos celu-
lares e tablets –, ele aparece ali, bem simples e humilde,
mas com a mesma precisão, objetividade e romantismo
de sempre. São principalmente nas narrações espor-
tivas, especialmente no futebol, que o rádio exerce o
papel fundamental de materializador de emoção. E os
porta-vozes desse processo são os narradores, que, uti-
lizando de diferentes técnicas e macetes, retratam aos
ouvintes o que se passa no campo de jogo e dentro do
estádio.
Diferente da TV, a narração no rádio não tem as
imagens como apoio. Ou seja, requer ainda mais cria-
tividade e poder de improvisação, sem deixar de lado,
é claro, o principal objetivo da transmissão, que é in-
formar com sobriedade e clareza. A precisão do rádio
é tanta, que até nos estádios é possível flagrar torcedo-
res assistindo ao jogo apostos com fones de ouvindo.
Ele é também o bom e velho companheiro de estrada,
para aqueles que estão dirigindo ou dentro do transpor-
te público. De forma direta e reta, com o rádio, só não
acompanha o jogo quem quer. E o Brasil está recheado
de grandes profissionais desse setor. O criador do estilo
de narração que conhecemos, em tempo real, foi o jor-
nalista Nicolau Tuma, em 1931, pela rádio Educadora
Paulista. Sem repórter na equipe, Tuma precisou ir até
os vestiários dos times antes do jogo para gravar os ros-
tos e nomes dos atletas, já que as camisas não tinham
número naquela época. Vindos dessa escola e chegando
mais próximos aos tempos de hoje, há outros diversos
nomes que são referência na narração esportiva, como,
por exemplo, Fiori Giglioti (1928-2006), Osmar Santos
– que narrou a épica final do Campeonato Paulista de
1977, conquistado pelo Corinthians –, Oswaldo Maciel,
Nilson César, entre outros. Há quem se arrisca dizer que
no Brasil estão os melhores narradores do mundo.
Hoje em dia há diversas escolas especializadas em
narração esportiva, faculdades e cursos técnicos, o que
certamente forma ótimos profissionais, recicla o conteú-
do para radialistas de outras décadas e faz com que novas
técnicas sejam implementadas. A formação de um narra-
dor, entretanto, quase sempre se inicia na infância. Nil-
son César, titular da equipe de esportes da Rádio Jovem
Pan, conta que o interesse pelo rádio começou quando
ainda era pequeno, nos campinhos de futebol com os co-
legas, que o chamavam para participar do jogo não pelo
simples fato de ele completar o time, e sim porque tam-
bém narrava toda a brincadeira. “A função de narrador
esportivo no rádio é inteiramente vocacional, é um dom.
Dava para perceber isso quando eu era menino. Com 12,
13 anos eu já imitava os grandes narradores da época e
ouvia todas as emissoras lá de Sorocaba, onde eu mora-
va. Eu ia jogar futebol na rua e era o narrador do jogo.
Eles me convidavam não porque eu era bom de bola, e
sim porque eu narrava o jogo (risos)”, conta.
O pai de Nilson César percebeu sua vocação quan-
do o garoto começou a subir no muro do estádio o São
Bento de Sorocaba para narrar o treino da equipe usando
As vozes da
emoção no futebol
Narrador esportivo, uma função carregada
de dom e com pitadas de poesia
Nilson César
por Arilton Batista
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