CityPenha abril 2015 - page 26

Abril/ 2015 - nº 95
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Quem diz que abril é marcado apenas pelo cristianismo,
em virtude da Páscoa, não sabe que dia 23 é também o Dia
de São Jorge e Dia do Torcedor Corinthiano. “O corinthia-
nismo é um estado de espírito. O Corinthianismo é mais ou
menos aquilo que a gente anceia de vida, de povo, de Brasil.
A gente respira o Corinthians”, define Ernesto Teixeira sobre
ser corinthiano. Há trinta anos como intérprete da Escola de
Samba Gaviões da Fiel, Ernesto, 50, desobedeceu ao pai, um
santista, para galgar os degraus da vida e se tornar hoje um
dos maiores ícones e representantes da torcida alvinegra em
plena atividade. Foi na arquibancada, entretanto, que tudo
começou e onde o paulistano Ernesto Teixeira descobriu a
marcante voz e a verdadeira paixão pelo Carnaval.
Inserido efetivamente nos es-
tádios de futebol no final da dé-
cada de 1970, Ernesto, quando
criança, só podia ir a jogos entre
Corinthians e Santos na compa-
nhia do pai e de um grande ami-
go da família chamado Valdir,
que era Corinthiano e membro da
Gaviões da Fiel. Ao chegarem na
porta do estádio, o amigo queria
que Ernesto entrasse com ele. “O
moleque vem comigo, na torcida
do Corinthians”, dizia Valdir. O
pai, santista, não impedia. Mas
não permitiria no futuro que o fi-
lho, embora já com 16 anos, fosse
sozinho aos jogos do Corinthians.
"De certa forma eu conquistei
minha independência. E meu pai
disse que se eu fosse não entraria
mais em casa. Eu testei, eu fui.
Retornei pra casa e a porta estava fechada. Mas minha mãe
abriu. Foi com essa identidade que eu cheguei na torcida. Me
identifiquei”, relembra Ernesto. Acompanhando os Gaviões,
passou a integrar o departamento de bandeiras da torcida,
equipe que cuida, confeccionava e leva as faixas para os jogos,
além de organizar a entidade de uma maneira geral.
Dos estádios para a avenida do samba, Ernesto cantou
muito dentro de ônibus com a Gaviões da Fiel no caminho
para os jogos e sempre se destacava entre os amigos no quesi-
to voz. Aos sábados acontecia uma roda de samba na quadra
da torcida, mas, por ainda não ter alcançado a maioridade,
ele não podia ficar até à noite, quando se iniciava o samba.
“Como era de sábado à noite eu não conseguia frequentar. Eu
chegava aqui [na quadra] sete horas da manhã, jogava bola.
Quando dava sete, oito horas da noite e ia começar a roda de
samba, eu ia embora pra casa”, conta. No início dos anos de
1980, já podendo atuar nas rodas de samba, quando a Gaviões
ainda era bloco, Ernesto Teixeira desfilou e aprendeu a tocar
alguns instrumentos da bateria. Em 1984, com a saída do To-
bias para a Vai-Vai, surgiu a oportunidade como intérprete.
Daí em diante foram anos de glórias e conquistas, além
de um período conturbado dentro da escola de samba, que em
1990 esteve para encerrar as atividades no Carnaval. Na oca-
sião, Ernesto, aliado a um grupo, propôs a ideia que hoje ele
chama de MSI do Bem, fazendo alusão ao período de 2004 a
2007, quando a empresaMedia Sports Investment (MSI) acor-
dou com o SCCP de realizar investimentos no time e obter lu-
cros futuramente. O projeto falhou e o contrato foi encerrado.
Na chamada MSI do Bem Ernesto
Teixeira investiu recursos próprios
para reerguer a escola de samba e o
lucro seria destinado para a própria
agremiação. Os frutos desse investi-
mento vieram no ano seguinte, com
a conquista do Grupo de Acesso no
Carnaval Paulista, com o enredo A
Dança das Horas. Em 1995, com o
enredo Coisa Boa é Pra Sempre, a
escola alvinegra se sagrou novamen-
te vencedora. Em 1999, 2002 e 2003
o feito se repetiu, levando a Gaviões
a um patamar diferenciado, mostran-
do a força principalmente da bateria
da escola. Em 2005 e 2007, levantou
a taça do Grupo de Acesso.
“Foi um grande planejamento.
Meu trabalho não se limitou apenas
a cantar e ser um artista, só nos ho-
lofotes. Quando precisou empurrar
carro alegórico eu empurrei também. Quando precisou tra-
balhar no bar eu trabalhei. Se eu não tivesse tomado aquela
atitude hoje a gente não estaria aqui conversando. Porque o
carnaval tinha sido extinto dentro da entidade", comenta Er-
nesto, que participou, inclusive, da limpeza do terreno onde
hoje é a quadra da escola/torcida.
A Gaviões é pioneira no desfile de torcidas organizadas
no Carnaval de São Paulo e o SCCP é o clube com maior
torcida dentro do estado. Isso faz com que ser a voz da Ga-
viões da Fiel no sambódromo seja considerado por muitos
uma responsabilidade diferenciada, quando comparada com
as demais entidades do samba. “Guardadas as proporções,
a minha função é a do cara que bate o pênalti na decisão do
campeonato. Então, ali é o começo de todo o trabalho. Se eu
entrar errado, se eu der a nota errada, todo o trabalho de um
Sempre altaneiro, Ernesto Teixeira
é há 30 anos a voz da fiel
D
estaque
por Arilton Batista
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