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Setembro / 2015 - nº 100
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S
aúde
Transtorno obsessivo compulsivo:
as manias que se tornam doenças
O Transtorno Obsessivo Compulsivo ou abreviada-
mente chamado de TOC, ocupa o quarto lugar entre os
distúrbios psíquicos mais frequentes, com quase sete mi-
lhões e meio de portadores no Brasil.
Por diversos motivos, muitos dos quais ainda não esclare-
cidos pele ciência, as manias podem virar doença. É quando
quem sofre do TOC é tomado por pensamentos invasivos ou
ideias recorrentes e, para aliviar a angústia causada por essas
obsessões, desenvolve comportamentos repetitivos, ou seja,
rituais compulsivos como lavar as mãos diversas vezes ao
dia supondo ser para se livrar de algum micro-organismo,
fechar e abrir gavetas associando o comportamento a algo
que possa acontecer de ruim, cumprir determinadas “tarefas
mentais” como repetir inúmeras vezes uma mesma frase ou
palavras para ficar livre de pensamentos que atormentam e
assombram, verificar repetidas vezes todos os dias antes de
dormir se portas e janelas foram fechadas.
Ocorre também cuidado extremo com a forma de co-
locar objetos, buscando exatidão no alinhamento, pois se
não fazê-lo, acredita que um mal terrível pode acontecer.
Medo desmedido de se contagiar por vírus, bactérias ou
substâncias tóxicas, levando a pessoa a rituais de limpeza
exagerados. O nível de ansiedade caso a “tarefa” não seja
executada é muito alto.
De todas as doenças da mente o TOC é uma das que
mais provocam sofrimento. Transforma seus portadores
em “escravos das suas ações e ideias”.
O alimento para o TOC é o medo, assim como ocorre
no caso dos fóbicos, porém, os portadores de fobias têm
um medo irreal em relação ao objeto real e, evitam entrar
em contato com o suposto perigo para evitar o pânico. No
caso do obsessivo compulsivo é mais complexo pois o que
gera angústia é um pensamento que causa medo. Para se
livrar dele adota comportamento compulsivo.
Um dos quadros mais comuns do distúrbio é o que en-
volve o medo obsessivo de contaminação. Alguns pacien-
tes chegam a se lavar com produtos pesados de limpeza,
como água sanitária e detergente, só porque encostaram
em outra pessoa. Muitos não se contentam só com um ba-
nho. Só se tranquilizam depois de vários e longos banhos.
Os obsessivos-compulsivos têm consciência de que
seus pensamentos e atitudes são completamente ilógi-
cos e também têm plena consciência do seu martírio,
mas não conseguem se livrar da condenação imposta por
suas mentes.
O impacto do TOC no contexto familiar pode ser de-
vastador, já que o número de relações comprometidas
pela mania patológica é muito grande. Nove de cada dez
obsessivo-compulsivos sofrem de baixo autoestima, que
por muitas vezes faz com que o transtorno se faça acom-
panhar de outros distúrbios como depressão, alcoolismo
e fobias específicas.
Além do sofrimento e angústia causada pela doença
em si, o TOC faz com que o paciente carregue o peso da
vergonha. Os doentes tendem a disfarçar os sintomas de-
morando a procurar ajuda, levando mais de quinze anos
em média. O fato é que, quanto mais tempo um paciente
passa sem tratamento, mais grave torna-se o quadro. Sem
ajuda profissional a doença é incontrolável.
As causas do TOC ainda não foram totalmente des-
cobertas. Sabe-se que o transtorno tem componentes
ambientais e genéticos. Graças ao desenvolvimento de
máquinas capazes de flagrar o cérebro em funcionamen-
to descobriram-se algumas áreas cerebrais que servem de
sede para as obsessões e as compulsões. As duas princi-
pais, o córtex orbito frontal e os gânglios da base, são res-
ponsáveis pelo processamento das informações recebidas
e pelo controle do medo.
O TOC não tem cura, mas pode ser controlado. A com-
binação de medicação com psicoterapia reduz em até 80%
a manifestação de sintomas. A psicoterapia utilizada é a
cognitiva comportamental onde o psicólogo desenvolve um
trabalho voltado para a conscientização do paciente de que
suas preocupações são ilógicas. Para isso, ele não só usa
argumentos lógicos, como expõe o paciente ao objeto de
suas aflições. O objetivo é proporcionar ao paciente uma
forma de controle sobre os pensamentos que atormentam,
baixando a ansiedade para uma vida com mais liberdade.
Renaura Silva Francisconi Pardal
• CRP 35469-7 • Psicóloga
Clínica e Psicopedagoga • Av. Amador Bueno da Veiga, 1.230 cj 1002 •
• 99299-0932 • 2791-4005
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