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Agosto / 2016 - nº 111
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Uma Sátira à Realidade da Vida
numa Noite de São João
O
pinião
O Sr. João estava muito feliz... Tudo parecia às mil mara-
vilhas: balões, fogueiras, barracas, muitos doces, quadrilhas,
muitas moças bonitas enfeitadas, com chapéu de palha, com
cara de menininhas. Foguetes, bombinhas e sanfoneiros to-
cando como cabra da peste. Tudo lindo... Todos felizes e eu
tomava meu vinho quente ou pedia para um amigo pagar mais
um, pois estava mais duro do que garoto de dezesseis anos.
A festa estava quase acabando quando uma mulher me
chamou e disse que queria dormir em meu barraco; falei para
ela que não tinha conforto em minha casa, uma cama e mais
algumas coisinhas, mas ela insistia... Eu quero ir com você;
só a cama basta, está frio mesmo, vamos esquentar os esque-
letos. Eu sempre amarro um barbante na porta até o corredor
do barraco para não perder meu rumo quando saio de casa e
volto tri bêbado... Assim, quando chegava, pegava no bar-
bante e adentrava no meu palacete (barraco).
A dona foi me acompanhando e quando ela me viu pegar
o barbante, perguntou: para que é isso homem? Eu respondi
para não perder o rumo de casa. Eu não me lembro de nada,
sei que rolou alguma coisa, ela gritava mais do que galinha
quando coloca ovo. Pela manhã, não falou nada, pegou sua
roupa e foi embora.
Mais de um ano depois, recebo em meu barraco, um re-
presentante do Conselho Tutelar. Nem sei o que é isso; onde
eu deveria me apresentar e explicar porque batia na mulher
e na filha. E eu nem sabia que tinha filha. Expliquei, mas os
homens nem quiseram saber... Vai ter quer ir até a delegacia
de uma “tal” de Maria da Penha. Nem na Penha eu morava.
Chegando lá fui ouvido e me expliquei que nunca tive filha,
e ainda me falaram que tinha que manter uma distância de
500m da tal mulher, que eu nem sabia o nome. Só sei que
fizemos um “tal” de sapeca iaiá.
Depois de alguns dias, recebi outro papel que deveria ir
ao consultório da psicóloga para conversar sobre o que a
dona havia dito sobre mim. Fizeram-me algumas perguntas.
Eu nada entendia: palavras difíceis cheias de bordados... De-
pois, levaram-me até um médico que atende somente crian-
ças. Nem sei o seu nome. Só sei que ele me falou que eu es-
tava judiando da menina; que balançava ou sacudia muito...
Então, falei para esse doutor, se ele não estava falando com
a pessoa errada porque eu nunca tive filha ou filho. O que
sei é que essa dona pula muita cerca e agora ela fala que a
menina é minha, o que eu faço doutor? Ele, não acreditando
em mim, orientou que fosse procurar um advogado... Então,
falei: “moço não tenho dinheiro para isso”... Mandou então
procurar uma juíza para definir a situação porque teria que
pagar uma pensão com a merreca que ganhava; pois vivia
de bico... Amulher ficou brava. Achou que estava mentindo.
Ela parecia um urubu de casaca... Antes, porém, quando fui
entrar no prédio vestido com uma calça meio curta e sapato
sujo e chapéu de palha, apareceu um homem de dois metros
e perguntou: o que o senhor quer? Eu respondi: estou com
este papel aqui e com hora marcada. Tire o chapéu e não suje
o corredor e nem o salão. Eu nem respondi.
Ela determinou que eu pagasse uma quantia para uma
mulher que fiz um sapeca iaiá somente uma vez e nem sabia
que tinha filha... E ela foi clara: ou o senhor paga ou mando
lhe prender em sua casa. Eu falei: ai meu Deus.
Estou resumindo uma situação que ocorre diariamente
neste país onde os direitos do cidadão deveriam ser ouvidos
e respeitados dignamente.
Muito me entristece uma situação como essa. O cida-
dão fica desorientado e, às vezes, chega ao seu próprio
falecimento com medo das autoridades pois,
quando se trata de pessoas humildes, somos
rebaixados e a nossa dignidade vai por água
à baixo. Deus proteja os pobres e os humil-
des de coração.
Gildásio Paixão
– Empresário Penhense, pro-
prietário da Ultrasom Car Desing - Revisão do
texto: Prof e diretor aposentado Darbi José
Almeida Júnior 1878, Selbstportrait. Caipira Picando Fumo, 1893
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