CityPenha Janeiro 2016 - page 14

Janeiro / 2016 - nº 104
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D
estaque
O relógio na estação Consolação do Metrô aponta
19h30 e o fluxo de pessoas é intenso na noite quente de
sexta-feira. Apressada, a maioria ultrapassa as catracas
rumo às plataformas, para embarcar no trem e seguir para
casa após o provável longo dia de trabalho. Muitos, porém,
estão ali à espera de outras pessoas para, juntos, aprovei-
tarem a noite num dos polos da diversidade cultural que
a cidade oferece. Imaginar São Paulo sem lembrar da rua
Augusta é como falar de rock e ignorar The Beatles. Pri-
vilegiadamente localizada, a via começa na rua Martinho
Prado, próximo à Praça Roosevelt, e termina junto à rua
Colômbia, no bairro dos Jardins. Antes disso cruza a Ave-
nida Paulista - o coração do estado. A região mais populo-
sa, com maior concentração de bares, baladas, restauran-
tes, lanchonetes, lojas e galerias, entretanto, é o trecho que
liga o centro da cidade à Av. Paulista, conhecido também
como Baixo Augusta.
A Rua Augusta teve suas chamadas décadas de ouro
nos anos de 1960, 1970 e 1980, quando os jovens de clas-
se média iam com seus carros e motos, acompanhados de
suas namoradas, e curtiam a noite na região. Com a en-
trada dos anos de 1990 o cenário mudou e a rua Augusta
e seu entorno se tornaram a Boca do Lixo na cidade, pois
acontecia a amplificação das casas de prostituição e a mas-
sificação do consumo de drogas. Num espaço de tempo
que durou mais de uma década a rua esteve praticamente
esquecida, até que, no início dos anos 2000, empresários
do ramo cultural passaram a abrir casas de shows e baladas
na região, elevando e dando início a uma transformação
para que a carismática Augusta se tornasse o que é nos dias
de hoje. A região carrega consigo uma característica única,
que é justamente a diversidade de público. Caminhando
por lá é possível observar várias camadas sociais e tribos
urbanas dividindo o mesmo cenário - roqueiros, skatistas,
regueiros, engravatados e por aí vai.
Segundo o músico e rapper Yannick Hara, 31, que nas-
ceu, foi criado e mora na rua Augusta, não é de hoje que
a região possui a particularidade de receber um público
diverso e democrático. "A diversidade é histórica. A rua
Augusta sempre atraiu todos os tipos de pessoas, inclusive
na fase da 'Boca do Lixo', quando os esquecidos vinham
para a região. Mesmo com aquele início histórico dos bo-
êmios e dos playboys da época, a Augusta sempre foi o
ponto de encontro do cara que mora no Centro com o que
mora na periferia. E, pra mim, tem que ser assim mesmo.
Chega de ficar 'guetificando' as pessoas", comenta.
Tendo em vista que ali é bastante agitado, tanto de dia,
com a movimentação de carros e ônibus, e à noite, com os
bares e baladas, morar na rua Augusta pode não parecer
uma ideia muito boa. Yannick, há três décadas como anfi-
trião do bairro, garante que o local é, sim, para ele, muito
bom para se morar, principalmente pelas diversas opções
de acesso, comércio e serviço. "Crescemos na região da
Praça Roosevelt, estudei no colégio próximo, fazemos fei-
ra e vamos à igreja aos domingos, num restaurante e no
açaí do Sr. Soroko. A facilidade de acesso é importante,
sim. E concordo que isso deveria estar em toda a cidade,
não só no Centro", conta o Hara, que cobra as autoridades
políticas: "Ouviu, senhor Geraldo Alckimin e senhor Fer-
nando Haddad? Em todas as regiões de Sampa! Chega de
dar ao Centro o que todas as Zonas têm que ter por direito
constitucional".
Questão que vem gerando bastante discussão nos úl-
timos anos é a especulação imobiliária que acontece em
torno da rua Augusta, que já conta com o fechamento de
algumas casas noturnas, um parque e aguarda por uma
possível mudança no perfil do público que frequenta a re-
gião, principalmente no âmbito econômico. Polêmicas à
parte, a Augusta vive e mantém suas raízes fincadas na
base da diversidade e do respeito. Frequentador da re-
gião há mais de dez anos, o DJ e profissional de mídias
sociais Felipe Barroso, 26, está à frente de dois grandes
eventos que acontecem na Funhouse e no TEX Redneck
Bar, ambos na Baixo Augusta. "Houve um boom que trou-
xe de volta a Augusta pra cena paulistana. Existem boas
casas, bons restaurantes e bares. Eu vejo a rua Augusta
Baixo Augusta e a diversidade
cultural em São Paulo
Referência na capital, a região é famosa por receber todo tipo
de público e oferecer opções variadas de entretenimento
por: Arilton Batista
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