CityPenha Abril 2017 - page 20

Abril / 2017 - nº 119
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Pecado Mortal
Naquele dia ele era o francês Jean Michell Wallace. Es-
tava na primeira classe do voo Paris-Toronto, da Air France.
Seria sua última missão em campo e depois encerraria sua
carreira. Não tinha mais interesse em prosseguir, iria para
a burocracia da agência. Já perdera muito, especialmente
sua família. E, aquela missão era especial porque confron-
taria seu melhor adversário. Seu nome verdadeiro, Sergei
Aleksandr Ivanov; branco, 1,84 metro de altura, 95 quilos,
ombros largos, rosto quadrado, olhos verdes, cabelos rui-
vos; agente russo, cinquenta e quatro anos de idade, trinta e
sete de atividade. Começara cedo, aos dezessete. Seu alvo,
Anthony Joshua Willians, agente americano, filho de pai
americano e mãe canadense; branco, 1,80 metro de altura,
92 quilos, ombros largos, rosto oval, olhos castanhos claros,
cabelo pretos, cinquenta e três anos, trinta e dois de ativida-
de. As últimas informações davam conta que se encontrava
na área metropolitana de Toronto, mais precisamente, em
Bradford West Gwillimbury.
O avião desceu às 16:45 horas, no Toronto City Centre
Airport. Jean Michell passou pela alfândega onde seu passa-
porte foi conferido e o guarda lhe perguntou qual o motivo
de entrar no país, ao que respondeu em bom francês, sem-
pre negócios. Liberado, dirigiu-se até o estacionamento do
aeroporto onde encontrou o carro que lhe estava preparado,
um Honda Civic prata, um carro popular por lá. Colocou a
pasta que carregava no chão, abaixou-se e conferiu se não
haveria nenhuma bomba embaixo do veículo. Foi no pneu
traseiro esquerdo e pegou a chave. Abriu a porta e entrou
colocando sua pasta no banco do passageiro. No porta-luvas
viu a pistola 9mm Makarov e o silenciador. Ligou o veículo,
ajustou o GPS com o endereço transmitido e partiu. Saiu do
aeroporto pelo Ferry Boat, seguiu pela Eireann Quay, depois
para a Quenns Quay W até chegar à Lake Shore Blvd W de
onde seguiu para a Harbour St, chegando, por fim, à Yonge
St, que o levaria direto ao seu destino.
Era um dia triste de outono no mês de outubro, a tem-
peratura máxima não passava dos 16 graus. Ventava muito,
as folhas das árvores caíam e o tráfego estava carregado.
Pensava apenas em sua missão e em como encontraria seu
adversário. Sabia que ele se afastara do serviço por algum
motivo, mas, exatamente o porquê, não fora descoberto.
Ambos tiveram passagens perigosas em comum ao longo da
carreira, ora em lados diferentes ora do mesmo lado quando
o inimigo era comum aos interesses de ambas as pátrias que
serviam. Mas, a situação agora era de oposição. Sua missão:
eliminar o alvo e, isso, não era apenas serviço, tinha um quê
de pessoal.
Após sair da região central de Toronto, o tráfego ficou
mais leve em direção ao subúrbio e Sergei seguiu tranqui-
lamente. Perto das 19:15 horas chegou ao seu destino, em
Bradford West Gwillimbury, na Tigertail Cres. Estava escu-
ro e a temperatura caíra ainda mais. Parou o veículo ao lado
esquerdo de um outro já estacionado defronte a uma casa
assobradada com duas portas de garagem. Ao lado da gara-
gem pode ver, na parte térrea, a fachada da casa com duas
janelas envidraçadas brancas ladeando a porta de entrada
em madeira, também branca, com uma pequena janelinha
ao centro; e, acima, três janelas brancas, indicando a exis-
tência de três dormitórios. A casa era toda revestida com
pedra reconstituída estilo capri; e na parte de trás existia
um bosque. Via-se apenas a iluminação da lareira numa sala
e nenhum movimento mais. Abriu o porta-luvas do carro,
pegou a Makarov e, instalou o silenciador, colocou a arma
no bolso direito do casaco, abriu a porta e desceu. Ninguém
estava na rua naquele momento, apesar de ainda ser cedo.
Percebeu uma senhora o observando de uma janela por trás
de uma cortina numa casa no outro lado da rua.
Chegou devagar até a porta da frente, ficou atento a
qualquer barulho e ouviu apenas o fraco crepitar da lenha na
lareira. Mexeu na maçaneta e percebeu que estava destran-
cada. Colocou a mão direita no bolso segurando a arma e
abriu. Após entrar, sacou a arma e a apontou para sua frente;
tudo estava escuro e seguindo em direção à iluminação da
lareira à sua esquerda chegou vagarosamente até a porta da
sala quando ouviu Anthony dizer, seja bem-vindo Sergei, eu
já o esperava, pode baixar a arma. Sergei olhou para os lados
e não viu mais ninguém, então baixou a arma, dizendo, olá
Anthony! Já faz muito tempo que não nos encontramos; e,
caminhou para sua frente. Anthony estava sentado em uma
cadeira de rodas com um cobertor de flanela quadriculado
sobre suas pernas; e, ao seu lado uma pequena
mesa de madeira adornada e redonda, com
duas garrafas de cerveja por abrir e dois copos.
O russo ficou curioso com o homem pálido
e magro à sua frente. Anthony percebendo a
curiosidade, disse, acho que você chegou tar-
de, meu tempo é curto neste plano, mais dois
ou três dias talvez. Se demorasse um pouco
mais, não iria cum-
prir sua missão.
O
russo
olhou as cer-
vejas e os co-
pos e disse,
você esperava
alguém? An-
thony respon-
deu, sim, você!
Todas as noites
peço para minha en-
fermeira colocar as cer-
C
onto
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