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Dezembro / 2017 - nº 127
va urgentemente encaminhar despachos, memorandos e sentenças
on-line para a capital antes da meia noite, além de conversar com
seus familiares naquela data tão importante. Por ser a mais nova
na região ficou a seu cargo o plantão judiciário naquele feriado,
enquanto os demais juízes passariam a data com seus familiares.
Chamou o cartorário e perguntou onde teria um lugar com gerador
e uma boa rede “Wi-Fi” na cidade. O cartorário pensou e disse que
conhecia um lugar, mas a juíza não iria gostar de saber....
Sentada discretamente num canto e focada em seu trabalho de
transmitir seus despachos, memorandos e sentenças pela internet
usando a rede “Wi-Fi”; foi surpreendida por uma voz vinda por de-
trás dela, que, sem meias palavras dizia, “quem diria!! A juíza da
cidade na casa de Dona Chiquinha!!” Tomada de surpresa, ela dei-
xou cair algumas anotações no chão e sem saber se respondia a in-
terpelação ou se pegava os papéis, parou, respirou fundo e olhando
para o homem respondeu, “coronel Romero, não me surpreende en-
contra-lo aqui! Acabei vindo para cá por motivo de força maior!!”.
Sem ser convidado Vaqueiro sentou-se na cadeira à frente da mesa
onde se encontrava a juíza e sorrindo lhe disse, “a doutora não havia
fechado o estabelecimento? Ela respondeu que sim, mas recebera
informações que ele continuava funcionando discretamente e como
o recurso da liminar estava sob análise preferiu não fazer nada mais
gravoso; no entanto, agora, diante das circunstâncias, ela decidira
suspender a liminar e entregou sua decisão para Dona Chiquinha.
Vaqueiro deu uma gargalhada e após se acalmar, olhou bem para
a juíza dizendo, “acredito que seu curso de direito não lhe ensinou
esse tipo de coisa, não é verdade? Ela respondeu afirmativamente
com a cabeça e ele prosseguiu, “a realidade de nosso País nos obri-
ga a fazer cada tipo de ajuste para que as coisas funcionem, não é
verdade? A juíza pensou um pouco e começou a rir. Vaqueiro então
disse, “que tal começarmos de novo e nos conhecer melhor, se me
permite, vou pedir um espumante e podemos conversar, desde que
não atrapalhe seus afazeres”. A juíza aceitou a oferta afirmando que
já havia terminado os envios mais importantes e os próximos seriam
os cumprimentos de Natal para parentes e amigos.
Vaqueiro levantou a mão direita e estalou os dedos, uma bonita
garçonete se aproximou e ele pediu o melhor espumante da casa e
duas taças. Ela saiu e, em poucos minutos, retornou com um balde
de prata cheio de gelo com uma garrafa dentro e as taças ao lado.
Tudo sobre uma bandeja de prata. Abriu a bebida com o estouro
tradicional da rolha, as borbulhas caíram para fora do gargalo e ela
encheu as taças, deixando o casal a sós. Vaqueiro pegou a taça e
indicou para que a juíza fizesse o mesmo, ergueram-nas e tocan-
do-as levemente desejaram-se mutuamente um FELIZ NATAL!!
Do alto de sua experiência, Dona Chiquinha que a tudo as-
sistia, percebeu que ali começava uma bela amizade! Coronel
Romero, ou Vaqueiro, se preferirem, e a juíza continuaram se
encontrando, não mais no casarão da simpática velhinha, mas
no restaurante fino da cidade....
Segundo o amigo que contou esse “causo”, Vaqueiro deixou
de frequentar a casa de Dona Chiquinha; ao menos até o mo-
mento em que a juíza se transferiu da comarca....
C
onto
Roberto de Jesus Moretti
• Bacharel em Direito pela Universidade de
São Paulo, Doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública •
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