CityPenha Fevereiro 2014 - page 46

Fevereiro / 2014 - nº 81
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Conflitos e constrangimentos
diante do sexo oral
Carla Cecarello
Psicóloga e Sexóloga
Coordenadora do Projeto AmbSex
Tel. (11) 3884-2059 - consultório
Em geral, devido a preconceitos culturais, antes de tudo
higiênicos, o sexo oral encontra entraves para sua prática
sem inibições. Desperta resistências de pessoas que nunca
o experimentaram ou o fizeram apenas para dar prazer a
seus amantes, porque lhes provocam certa repugnância os
odores ou sabores dos genitais e suas secreções.
Entretanto, a paixão costuma se impor a esses pre-
conceitos. Em um de seus três ensaios sobre teoria sexu-
al (1905), Sigmund Freud explica isso claramente: “(...)
Aquele que abomina outras práticas [refere-se ao sexo
oral], usadas talvez desde os tempos mais primitivos da
humanidade, considerando-as perversões, obedece a uma
sensação bem definida de repugnância que o protege da
aceitação de tal objetivo sexual. Os limites desta repug-
nância são, no entanto, puramente convencionais: indiví-
duos que beijam com paixão os lábios de uma bela moça
não poderão empregar sem repugnância sua escova de
dentes, mesmo não tendo razão nenhuma para supor que
sua própria cavidade bucal, que não lhes produz asco, es-
teja mais limpa do que a da moça. A repugnância nos apa-
rece aqui como um fator suscetível de fechar o caminho
para a superestimação sexual, mas também de ser vencido
pela libido (...)”.
Estas conclusões freudianas, válidas também na atuali-
dade, nascem da repressão imposta desde tempos remotos
à observação e às carícias dos genitais, vistos como zonas
proibidas e como as partes menos higiênicas do corpo, já
que correspondem ao aparelho excretor.
Os conflitos dele:
Para o homem, o sexo oral tem algo de dominação e
submissão da mulher. A cultura da falocracia ainda não
F
alando sobre sexo
eliminou o pênis como símbolo da sexualidade, de modo
que essa cultura, alimentada durante séculos, provoca ex-
cessos de autoritarismo. A prática do cunnilingus aparece
às vezes como uma decisão pessoal, na qual a amante não
intervém. Os conflitos surgem por sua incapacidade para
entender a sensibilidade de sua parceira sexual. Muitos
homens introduzem a língua na entrada da vagina e se es-
quecem do clitóris. Sua obsessão genital é tanta que nem
a frequência do movimento da língua, nem a pressão dos
lábios, nem o ritmo da lambida são os adequados para esti-
mular sua parceira sexual e proporcionar-lhe prazer.
Anegligência ou certa dificuldade para entender o cun-
nilingus como um gesto de submissão faz com que alguns
homens se excedam em algumas lambidas durante alguns
minutos, como que por obrigação. Outros sentem repúdio
diante do sexo oral; seja pelo odor ou pelas secreções dos
genitais femininas, eles resistem a praticá-lo.
Os conflitos dela:
São muitas as mulheres que têm dúvidas quanto ao sexo
oral. Elas se debatem em um mundo de sensações. Algu-
mas sentem vergonha. Têm medo de que seu companheiro
sexual ache feia a sua vulva. Ou são detidas pelo comple-
xo, porque seu clitóris é muito grande ou pequeno demais.
Outras mulheres sentem-se angustiadas diante da reação de
seus amantes, porque acreditam que o pêlo do púbis é muito
abundante ou, ao contrário, é escasso. Em síntese, o que as
perturba é o medo do repúdio do seu amante porque lhes
desagradam seus genitais. Essa inquietação também se es-
tende ao fato de ele não gostar do odor.
Com respeito à felação (fazer sexo oral no pênis), são
muitas as mulheres que a realizam por obrigação. Às ve-
zes elas se deparam com um conflito ético: apesar de
gostarem, não podem aceitá-la porque é uma prática
que consideram completamente inadequada (para mui-
tas, “coisa de puta”). Outras mulheres têm conflitos
concretos: sentem náuseas quando metem em sua
boca o pênis; outras acham que o odor ou sabor
do pênis não irá agradá-las. Todas essas razões
cortam-lhes o desejo e as afastam da paixão e
da entrega do momento.
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