CityPenha março 2014 - page 18

Março / 2014 - nº 82
18
Solange Cruz,
presidente da Escola de Samba
Mocidade Alegre
Em um mundo predominantemente masculino como as es-
colas de samba, a presidente da Escola que foi Bi Campeã do
carnaval em 2012 e 2013 e promete estar na disputa do título
do Carnaval 2014 conta um pouco de sua atuação que vai mui-
to além de preparar o desfile do Carnaval.
CityPenha:
Conte um pouco de como começou sua história
na Mocidade.
Solange:
Hoje eu sou a presidente do Grêmio Recreativo
Cultural e Escola de Samba Mocidade Alegre, mas sou nascida
e criada aqui na escola. Na verdade a escola foi fundada por
três irmãos, e um deles é meu pai. Tenho uma trajetória grande
na escola. Já passei por outras alas, já fui chefe de ala, diretora
de eventos, mestre de cerimônia, vice-presidente e agora estou
na presidência da escola.
CityPenha:
Você tem um jeito, uma filosofia totalmente di-
ferente de dirigir a escola. Conta pra gente como é isso, afinal
você tem um resultado fantástico. Se não é campeã, é vice ou
é terceiro lugar.
Solange:
Então em nível de gestão, eu penso muito num
conjunto para dar certo. Assim como tudo na vida a Escola de
Samba é uma empresa. Nós temos vários departamentos aqui.
Eu sempre falo que sou como um polvo, eu tenho um corpo
que tem vários braços que me alimentam. Todo mundo traz
informações e vai alimentando isso. E esse sucesso não é meu,
é da gestão toda, da equipe, da comunidade. Acho que o meu
papel é fazê-los entender que, unidos, a gente consegue um
algo a mais, que o nosso ideal é sempre o mesmo, que mesmo
sendo presidente, eu não sou dona de uma escola, apenas porta-
-voz de uma comunidade, e eu represento eles, brigo por eles,
luto por eles. Minha voz é a deles.
CityPenha:
Pelo que podemos perceber sua gestão é bem par-
ticipativa.
Solange:
Eu estou sempre buscando o que é melhor para nos-
sa escola dentro de todo esse conjunto. No início eu era uma
pessoa mais rígida. Sou muito segura do que eu quero e sempre
falei o que eu acho e fiz o que achei que devia fazer, mas para
dirigir a escola, cheguei à conclusão de que temos que dividir
mais. Então passei a ouvir bastante, a digerir o que as pessoas
acham, tentar entender e transformar para chegar naquilo que
a gente poderia chamar de um futuro resultado. Hoje trabalha-
mos muito com isso.
CityPenha:
E fazer uma gestão participativa não é fácil com
essa estrutura toda! Quantas pessoas compõem a escola?
Solange:
Estamos na faixa de mais de 3mil componentes,
divididos em 25 alas. E todos os componentes são dedicados,
é todo mundo fazendo algo dentro da escola. Eu acho que o
resultado requer a ação do conjunto, é fruto de toda essa união.
CityPenha:
No carnaval você tem que fazer a coisa meio
competitiva, mas ao mesmo tempo todo mundo tem que se di-
vertir. O intuito é o pessoal estar aqui, gostar, ir e ser campeão,
mas é também para se divertir?
Solange:
Com certeza, até por que todas as pessoas que es-
tão aqui são voluntárias, trabalham em colaboração. Elas que-
rem um resultado, mas tem que ser um trabalho prazeroso, se
não for prazeroso, não tem resultado. Então eu acredito muito
nisso. Não existe carnaval sem vibração, sem diversão, sem
alegria, sem energia. Infelizmente o modelo dos desfiles de
carnaval meio que tirou isso, engessou por conta de regras,
por conta de critério, de regulamento. Isso é uma coisa que
eu sempre procuro falar com o meu pessoal. Sempre procuro
brincar, rir, extravasar, cantar, evoluir, mas sem perder a alegria
e responsabilidade daquilo que temos que traçar. É uma divisão
complicada, mas eles entendem que nosso foco é único, que
nossa meta é única: ser campeã. Então o foco é ser atingido e
que é sempre o mesmo. Sempre tentamos atingir esse patamar.
Juntamente com a comunidade, a gente chega lá.
CityPenha:
E o trabalho é o ano todo, não só na época de
carnaval?
Solange:
Isso mesmo, a escola temmuitos shows e atualmen-
te eu trabalho com palestras, workshops, visitas para muitas
empresas, muitas faculdades. Para mim, isso já virou um tra-
balho, a minha agenda vive lotada com tudo isso. Então é uma
forma de fazer as coisas seguirem adiante. A escola não para.
Temos os trabalhos sociais, os projetos sociais, tem todo um
trabalho além do desfile, é e claro, a escolha de enredo, a pro-
cura de novos parceiros. Tudo isso é durante o ano todo.
E
ntrevista
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