CityPenha novembro2015 - page 14

Novembro / 2015 - nº 102
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E
ntrevista
O jornalista Flávio Prado é uma das vozes mais conheci-
das no mundo do futebol. Ele é natural da Penha e tem muito
orgulho de suas raízes da Zona Leste.
Desde a década de 90 está na rádio Jovem Pan, é comen-
tarista nas transmissões dos jogos, participa diariamente do
programa “Esporte em Discussão” e apresenta aos sábados
"No Mundo da Bola". Paralelamente na TV Gazeta comanda
aos domingos o tradicional "Mesa Redonda Futebol Debate",
e participa do programa Gazeta Esportiva durante a semana.
Casado, Flávio tem dois filhos, a cantora de pop rock Rita
Graziella Vaz Martone de Prado e o jornalista Bruno Prado.
Acompanhe o descontraído bate papo que fizemos com ele:
CityPenha:
O que levou você a querer ser um jornalista es-
portivo?
Flávio Prado:
Na verdade eu sou totalmente “futeboleiro”.
Não me faça perguntas de basquete nem de nada, só de fute-
bol. Isso porque eu fui criado na Zona Leste e, com certeza
absoluta, na minha época não existia nenhum outro esporte,
era só futebol. Eu estudei no Estadual da Penha, e lá os ou-
tros esportes eram uma obrigação. Era uma coisa séria, você
tinha que praticar todos eles, mas era um “porre”. Você tinha
que fazer tudo, mas eu só queria jogar futebol, só que eu era
péssimo. Não é que eu jogava mal, eu era péssimo mesmo.
CityPenha:
Sua infância foi na Penha?
Flávio:
Eu morava na rua Embiruçu, em frente onde hoje
é o Metrô Vila Matilde. Da minha casa eu via sete, oito cam-
pos de futebol. Ali só tinha campo de futebol, era um colado
no outro, dava mais de trinta. Começava onde hoje é o Metrô
Penha e ia até o Metrô Vila Guilhermina. Tanto que as bolas
se misturavam. Tinha os festivais de domingo, era uma coisa
maravilhosa, uma coisa que eu sonho muitas vezes, eu acor-
do revendo tudo aquilo. É realmente uma coisa maravilhosa.
CityPenha:
Você disse que não sabia jogar, mas queria ser
jogador?
Flávio:
Para mim o mundo era futebol e obviamente eu
queria ser jogador de futebol, mas eu não tinha a menor ca-
pacidade para isso, e a minha vida era longe de tudo, muito
longe. Não tinha ônibus direto para o centro da cidade, então
você precisava ir a pé até o centro da Penha, chegava no Lar-
go 8 de Setembro e pegava um bonde ou um ônibus para ir
até o centro da cidade. A gente para ver um jogo no Morumbi
tinha que fazer uma vaquinha para alugar uma perua porque
o Morumbi era muito longe. Eram torcedores de vários times
que se reuniam para ir ver o jogo.
CityPenha:
Era uma época em que as pessoas iam ao está-
dio apenas assistir um jogo de futebol!
Flávio:
Exatamente! Eu lembro uma vez que era feriado e
o São Paulo fez um jogo de graça da Libertadores. Ainda não
tinha nem aquele Cebolão. Você ia até a marginal, entrava
por dentro de Osasco e saia no Morumbi. Era um passeio.
Minha vida foi “toda futebol”. Eu fiquei ligado a tudo
aquilo e minha família também sempre foi muito ligada ao
futebol. Meu tio Flávio morreu por causa do futebol. Ele jo-
gava muita bola e chegou a jogar com o Julio Botelho, que é
a maior figura que a Penha já projetou. Eles jogavam juntos e
passaram num teste no Juventus. Meu tio acabou não ficando
e foi trabalhar como contador, mas ele jogava muita bola, era
o astro na região. Um dia ele se sentiu mal no serviço e ficou
constatado que tinha um problema cardíaco e que não podia
mais jogar futebol.
CityPenha:
Nossa, isso acabou com a vida dele!
Flávio:
Ele tinha 18 anos e disse que não tinha o menor in-
teresse de parar de jogar futebol. Foi atrás de vários médicos
até que achou um que disse: “Você pode jogar!” Ele jogou
sábado à tarde, domingo de manhã, domingo à tarde e na se-
gunda acordou morto. Isso com 19 para 20 anos. Ele morreu
no dia 14 de janeiro de 52. No dia 11 de fevereiro de 54, dia
em que ele completaria 22 anos, eu nasci, ou seja, eu nasci
ele. Meu nome que era para ser Julio Cesar virou Flávio.
CityPenha:
Todos da sua família gostavam de futebol?
Flávio Prado
um jornalista “futeboleiro”
foto:divulgação
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