CityPenha novembro2015 - page 16

Novembro / 2015 - nº 102
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e já fazia o curso de Torneiro Mecânico. Meu pai, por exem-
plo, sempre foi operário, chegou a ser gerente da Kibon, só
com o ensino primário. Ele queria que eu fizesse faculdade
de Direito e eu até fiz, mas não tive saco. Foi por causa da-
quela matéria do jornal que eu descobri que precisava fazer
faculdade para ser jornalista. Depois disso minha família co-
meçou a ter um monte de jornalistas, inclusive o Bruno, meu
filho e minhas duas sobrinhas.
CityPenha:
Qual momento você considera ser o mais mar-
cante da sua carreira como jornalista. Seria esse jogo com o
Silvio Luiz?
Flávio:
São vários. O teste da TV Gazeta, esse primeiro
jogo com o Silvio Luiz, meu primeiro jogo de Copa do Mun-
do. É como se eu tivesse lá hoje.
CityPenha:
Você começou como repórter e já virou comen-
tarista, isso foi muito rápido?
Flávio:
Eu queria ser repórter, mas só recebia não, não, e
ia insistindo. Eu fiquei uns 6 ou 7 anos buscando muito isso
e sempre considerei que o “não” era uma questão de tempo.
Eu nunca vi o “não” como uma coisa definitiva. Tinha cer-
teza de que isso iria virar. Quando veio, veio muito rápido.
Eu comecei a trabalhar na Copa do Mundo, fazendo jogos do
Brasil. Eu só fiz Copa do Mundo com a seleção brasileira o
que não era uma coisa normal.
CityPenha:
O que você gosta mais, rádio ou TV?
Flávio:
A TV nunca foi meu projeto de vida. Eu não me
achava com cara para isso, eu sempre fui muito esculhamba-
do, muito relaxado. A TV caiu no meu colo. O meu objetivo
sempre foi ser repórter na rádio Gazeta. Quando comecei a
fazer o Mesa Redonda na TV eu brigava muito com os caras
e essas brigas chamavam a atenção. A primeira vez que eu
apareci fui dar uma informação, o cara contestou e eu “bri-
guei” com ele. Ficou aquela coisa de moleque rebelde. Ima-
gina naquela época um moleque contestando os mais velhos,
mas eu tinha muito argumento e isso virou uma atração.
CityPenha:
Todo mundo diz que você não vai mais aos es-
tádios, é isso mesmo?
Flávio:
Realmente não vou. Hoje isso é uma coisa pessoal.
Eu acho que deram muito espaço para as torcidas organiza-
das, que são marginais. Ou você abre espaço para a família
ou para o bandido e como os
clubes abriram espaço para
os bandidos eu não vou. É
uma questão de postura, não
vou me misturar com ban-
dido. É claro que eu tenho
respaldo da minha emissora.
Se eu fosse obrigado a ir eu
iria. Mas felizmente minha
emissora me respalda.
CityPenha:
No programa
Mesa Redonda você fala que
torce para a Ponte Preta,
isso é verdade?
Flávio:
É verdade
mesmo. Como tinha
sido forçado desde
criança a ser são-pauli-
no, eu comecei a cobrir
o São Paulo pela Gazeta
Esportiva e conheci o
clube. A partir daí fiquei
com convicção absoluta
que eu não poderia tor-
cer para o São Paulo,
porque não tinha nada a
ver comigo. Se eu tives-
se a liberdade de torcer
para um time, eu nunca
tive essa liberdade (ri-
sos), eu teria torcido para o Corinthians. Até por ser da Zona
Leste, por ser “meio maloqueiro”, a minha identificação
maior no futebol seria pelo Corinthians.
No tempo em que morei em Campinas, quando meu pai
foi trabalhar lá e virou conselheiro da Ponte Preta, eu vivia
dentro da Ponte e me apeguei muito a ela. Eu vou ver jogos,
dou palpite, corneto. Hoje a Ponte é o único time que eu
torço de verdade.
CityPenha:
Sua história é muito legal e acho que muita gen-
te não conhece. Quem vê a figura do Flávio Prado hoje não
imagina tudo isso.
Flávio:
E tudo sempre na Zona Leste. Eu só mudei de lá por-
que eu casei e a minha mulher é da Zona Norte. Eu não ficava
em casa e então era sacanagem deixar ela longe da família.
CityPenha:
Tem algo que você gostaria que nossos leitores
soubessem sobre você?
Flávio:
Tem uma coisinha que eu acho legal, já que o assun-
to sou eu (risos). Eu sempre gostei de cantar e quando estava
nesse trajeto todo para ser jornalista, a primeira rádio que meu
deu um ok, foi a rádio ABC de Santo André. Lá também ti-
nha uma rádio chamada Rádio Clube onde havia um amigo do
meu pai que cantava, e eu fui cantar com ele. Acabei ficando
na dúvida se eu queria cantar ou
ser jornalista. Eu fazia o progra-
ma e cantava na rádio, as duas
coisas ao mesmo tempo. Mas
o cara que fazia o programa
morreu e o sonho de ser cantor
também. O curioso é que meu
filho Bruno virou jornalista e a
minha filha Rita virou cantora,
e eu nunca falei para ele ser jor-
nalista nem para ela ser cantora.
A minha mulher é professora e
ninguém quis ser. (risos).
E
ntrevista
foto:divulgação
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