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Outubro / 2017 - nº 125
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Sou professor há cinquenta anos e já vivi muitas
experiências em todos os níveis de ensino, exceto
na Pré-Escola. Nessa fase, treinei com os filhos e
hoje com os netos! Uma delícia.
Sempre tive pela figura do professor o maior
respeito. Lembro-me dos meus primeiros professo-
res e nós, os alunos, tínhamos verdadeira admiração
por eles. Eram reverenciados e respeitados pela fun-
ção educadora.
Nos cursos primários antigamente, lembro-me
bem, cantávamos o Hino Nacional e outros cânti-
cos cívicos logo cedo, em pé, enfileirados, antes
de entrarmos para as classes. Os professores fica-
vam na frente das filas e cantavam junto! Não me
venham dizer que isso era coisa dos militares, por-
que de 1955 até 1958 ainda os militares estavam
só na caserna.
Mais tarde lecionei numa escola de ensino mé-
dio em Piracicaba onde os professores eram mais
idosos. Eu ainda era muito jovem e via o respeito e
carinho dos alunos por todos nós. Ainda hoje esses
alunos se encontram para lembrar os bons tempos e
a agradável convivência com seus professores.
O tempo passou e o respeito pelos professores
foi embora. Que triste! Hoje vemos professores se-
rem agredidos pelos seus alunos dentro das salas
de aula. Há uns anos isso seria impensável. Algo
precisa ser feito pela dignidade da classe, mas pare-
ce que nossas autoridades educacionais estão mais
preocupadas com a aprovação automática e os nú-
meros das estatísticas do que com a formação de
nossos adolescentes.
Hoje, professores e funcionários são verdadeiros
reféns de “gangs” dentro das escolas de ensino fun-
damental e médio. Os professores estão com medo
e parece que ninguém faz nada! Recentemente as-
sisti a um vídeo em que uma criança de pré-escola,
destruía - literalmente destruía, sua sala de aula, às
vistas da professora e da coordenadora. Quando al-
guém quis impedir a criança de derrubar tudo foi
alertado que não podia tocar nela.
Um caso recente que chocou a opinião pública
foi o da professora em Santa Catarina que foi vio-
lenta e brutalmente agredida por um aluno de 15
anos. A forma com que foi agredida deformou o seu
rosto que foi mostrado pelos jornais.
O fato ganhou o noticiário e as redes sociais. Pa-
rece que ficou nisso.
As agressões contra professores que temos co-
nhecimento são aquelas que a imprensa divulga,
mas muitas não chegam sequer a ter boletim de
ocorrência lavrado. Por outro lado, nem todas as
que são levadas à polícia são noticiadas.
É crescente e assustador o que ocorre dentro das
salas de aula. Os professores não conseguem um
mínimo de respeito, disciplina e atenção dos alunos.
O nível de ensino cai assustadoramente. A falta de
interesse, a forma como se dirigem aos mestres, os
atritos entre os próprios alunos, o desrespeito entre
eles, os xingamentos com palavras de baixo calão
em plena sala de aula são coisas que a minha ge-
ração de professores não acredita estar ocorrendo.
É claro que isso é reflexo de uma sociedade de-
sestruturada cujas famílias não impõem limites den-
tro de casa. O garoto que agrediu a professora havia
agredido a própria mãe dentro de casa. É claro que
isso é reflexo de uma TV que ensina tudo errado e
reflexo do que veem diariamente nas ruas. A verda-
de é que os pais esperam que os professores edu-
quem seus filhos, numa inversão total dos papéis.
Estamos pagando um alto preço por tolerar a im-
punidade, dentro e fora escolas.
Alunos desinteressados, malcriados, violentos...
professores com medo... Nesse cenário, ainda ve-
mos escolas de ensino fundamental e médio em que
os docentes “tiram água de pedra”. Conseguem en-
sinar aqueles que querem aprender.
Lamentavelmente, no meio de muitos que não
querem nada, há aqueles que querem aprender e
cursar uma faculdade. É por esses que os professo-
res ainda lutam.
Ao mesmo tempo em que parabenizamos aos pro-
fessores, damos “nota zero” para os gestores da educa-
ção que “não prestam atenção” no que está ocorrendo.
Agressão a professores
Triste quadro do que acontece com a
evolução da educação no Brasil
GilsonAlberto Novaes
• Professor de Direito Eleitoral na Faculdade
de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie-campus Campinas
e Coordenador Acadêmico do Centro de Ciências e Tecnologia
O
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