CityPenha Fevereiro 2015 - page 20

Fevereiro / 2015 - nº 93
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M
úsica
“Sim vamos embora que esperar não é fazer, quem sabe
faz ahora enão espera acontecer!”
Será que alguém nunca ouviu esse trecho de uma canção
composta por Geraldo Vandré que juntamente com Théo de
Barros também iriacomporoutrapágina imortal denossamú-
sica: Disparada? Em pleno ano de 1968, no auge da ditadura
militar que governava oBrasil, amúsica de onde foi extraído
o trecho acima - Prá nãoDizer que nãoFalei das Flores – foi
imediatamente banida das rádios, televisões e lojas de discos
por ser considerada um insulto à ordemque então reinava em
nossopaís. ComoGeraldoVandré já fora “penalizado” com a
proibição da canção em todo o território nacional, a junta de
censura foi “boazinha” e deixou livre para execuçãoDispara-
da apesar dessa outra canção poder ser encarada como uma
incitação à luta no campo principalmente quando afirma que
“por que gado a gente pega, tange ferro engorda emata, mas
comgente édiferente!”
Por ideologiaouopressão, averdade équeumadasmani-
festações que sempre caricaturou oumesmo fez críticas nada
veladas aos regimes governamentais pelo mundo afora foi a
música, porém vamos nos ater ao nosso País pois é aqui que
vivemos e onde temos que admitir que governo sempre deixa
adesejar esseou aquele setor dapopulação.Houveum tempo
em que as coisas podiamfluirmais abertamente e oCarnaval
era, então, a oportunidade do povo semanifestar e observem
queessaoportunidade sempreestevenapautados composito-
res nacionais.
“Varre, varre, varre vassourinha...” essa marchinha carna-
valesca louvava a figura do então candidato à Presidência do
Brasil,um fenômenoeleitoreirodosanos50ouseja, JânioQua-
dros que com sua figura quase folclórica por onde aparecesse
emcomíciosouaglomeraçõespopulares, semuniadeumavas-
soura e a prometia usar contra a corrupção que grassava por
aqui (vejamcomoesseassuntonãoé tãoatual assim).Milhares
de adesivos emesmominiaturas de uma vassoura eram dispu-
tadosaos tapaspeloseleitoresdispostosadar seuvotocontraas
coisaserradas.Eleito, JânioQuadros tratoude renunciarapenas
seismeses depois alegando “forças ocultas” terempesadones-
sa sua decisão. Tanta esperança para que ele, nossoPresidente,
proibisseapenasousodobiquíni naspraiasbrasileiras!
Outro personagem que sempre mereceria a atenção do
cancioneiro brasileiro sem dúvida alguma foi GetúlioVargas,
ditador e presidente commandato mais duradouro até hoje
(entre seus dois mandatos, Getúlio atravessaria os anos 40 e
50 até se suicidar para não ter que sair do Palácio do Cate-
te andando e humilhado)! Haroldo Lobo, grande compositor
de sucessos na voz deMiltinho e até Dalva de Oliveira não
deixou por menos e compôs uma marchinha que pedia para
colocar “o retrato do velho outra vez” só que ao invés de se
sentir homenageado, Getúlio, grande conquistador e mulhe-
rengo, não gostou de ser chamado de velho ! Nem sempre as
coisas ocorrem dentro do esperado.Mas vamos avançar para
temposmais recentes.
Alguém jáouviuo jingle*quedizia assim “leveumnovo
Sol paraBrasília, para brilhar no senado, vote em...”Quércia
ouOrestes Quércia, à época candidato ao Senado, viria a ser
eleito dando um grande salto em sua carreira política que en-
gatinhava equeo levaria a ser umdos políticos demaior pro-
jeção, aocontráriodoEimael quecomo jingle“Ei, ei,Eimael,
umdemocratacristão...”atéhojecontinua tentandoalçarvoos
mais importantes em sua trajetória.
Ah! E tem aquele indefectível “Lulala” que de esperança
de novos tempos na política nacional acabou ou ainda está
passando por um inferno astral que parece não ter fim apesar
de toda a blindagem que seu partido vem tentando fazer.Mas
espera aí, só estoumencionandomúsicas e jingles que foram
sucessose,muitasvezes, são lembradosatéhoje,masoquedi-
zer de algumas canções quepoucodevem ser lembradas eque
foram igualmentebanidasdocancioneiropopularmoderno?
“O tigre chegou na frente emetralhou a garganta do estu-
dante”erao trechodeumamúsicaapresentadaemum festival
da canção pela extintaTVTupi de SãoPaulo.Apesar de pes-
quisar, nada encontrei sobre ela ou seus autores e tive queme
limitar àmemória demeu pai! O trecho acima era o original
mostrado na primeira eliminatória daquele festival. A censu-
ra, lógico, quis proibir a segunda apresentação já que ela fora
classificada.Então,nãosesabebemporqueougraçasaquem,
ela pode ir para a outra faze sóque comuma “leve”mudança
que deixou o trecho acima assim: “o tigre chegou na frente e
metralhou agargantado elefante”. Sutil não?
Minhagente (semquerer fazer apologia anenhum expre-
sidente brasileiro), um fato é incontestável ou seja, o Brasil
pródigo em criatividade, nãopoderia comonãodeixou, de fa-
zer críticas oumesmo louvar os políticos em ascensão ou já
consolidados, buscando uma maneira de renovar esperanças
de nosso povo em figuras muitas vezes emblemáticas e em
outras, surreais, mas sempre com um lampejo de que a coisa
toda pode mudar e assim deverá ser hoje e sempre. Dando
rasteiras em censores, elogiando ou criticando pessoas públi-
cas, mudando aqui e acolá uma letra para po-
dermantê-la viva. OBrasil segue adiante pela
tenacidade de cada um de nós, mesmo tendo
por vezesde remarmos contraacorrentezauti-
lizando como remouma colher de café !!!
* Jingle: cançãopublicitária.
BrunoSaike
•músico e vocalista daBandaHeSaike
Amúsica e apolítica
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